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Mundo Um prefeito censurou uma reportagem sobre o passado antissemita de Henry Ford

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Henry Ford recebendo a Grã-Cruz da Ordem da Águia Alemã de oficiais nazistas em 1938. (Foto: Reprodução)

Nas últimas semanas, a cidade de Dearborn foi para o noticiário por causa da Ford. Ou melhor, por causa do fundador da montadora, Henry Ford (1863-1947), cujo passado antissemita motivou a publicação de uma reportagem que sofreu uma operação-abafa liderada pelo prefeito da cidade, John O’Reilly Jr.

Dearborn é uma cidadezinha de cerca de 95 mil habitantes colada a Detroit, em Michigan, berço da indústria automotiva dos EUA e da montadora Ford. A sede fica lá até hoje.

O esforço para enterrar a história acabou chamando ainda mais a atenção para o episódio. Pela estimativa de Bill McGraw, autor da reportagem sobre o antissemitismo de Ford e agora ex-editor da The Dearborn Historian, revista financiada pela prefeitura local, o texto, caso publicado, seria lido por cerca de mil pessoas.

Depois da polêmica gerada em torno do episódio, entretanto, a reportagem teve 100 mil leitores únicos em apenas um dos sites em que foi publicada, o Deadline Detroit.

Sem contar os que leram o texto em jornais como o The New York Times ou por agências de notícias, como a Associated Press, alguns dos veículos que noticiaram o veto do prefeito.

McGraw diz que teve a ideia de escrever sobre o assunto por identificar um aumento do antissemitismo nos Estados Unidos —no final de outubro de 2018, o país teve seu pior ataque do tipo, depois que um atirador matou 11 judeus em uma sinagoga em Pittsburgh, na Pensilvânia.

A ideia era publicar a história em janeiro de 2019, data que marcou o aniversário de 100 anos da compra, por Ford, de um semanário local, The Dearborn Independent.

O jornal era usado por Ford para atacar judeus, diz McGraw. “Muitas pessoas educadas na área de Detroit não sabem que ele gastava milhões de dólares para publicar artigos antissemitas”, afirma.

“Ele é uma presença viva em sites e fóruns online que pregam o ódio. Antissemitas e ultranacionalistas admiram Ford, o tratam como lenda viva, embora ele esteja morto.”

Ford usou o Dearborn Independent, por exemplo, para publicar o texto “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, uma teoria da conspiração na qual judeus teriam um plano global para dominar o mundo.

“Publicou isso e muitas outras reportagens no jornal, dizendo que os judeus eram bolcheviques, que eram banqueiros, que queriam subverter a democracia americana, que eram perigosos para a vida americana”, diz a historiadora Hasia Diner, professora de história judaico-americana da Universidade de Nova York.

Diner conta que os donos de lojas que vendiam Ford costumavam colocar um exemplar do jornal em cada carro da montadora vendido. “Era o carro mais popular na época. O motorista dirigia e, ao seu lado, tinha uma cópia dessa publicação. A preocupação dos judeus não era apenas com o que ele dizia, mas com a distribuição desse jornal em um produto que milhões de americanos amavam”, explica. “Ele era visto como herói pela sociedade americana, o cara pobre que enriqueceu.”

Por parte dos judeus, diz Diner, não houve um boicote oficial, mas muitos não compravam a marca devido às atitudes antissemitas de Ford. “Ele nunca mudou suas visões e deu um pedido de desculpa pouco convincente. Mas viajou à Alemanha depois que Hitler assumiu o poder, apertou a mão de Hitler. Ele ganhou uma medalha da Alemanha nazista”, diz a historiadora, em referência à Grã-Cruz da Ordem da Águia Alemã.

Ao reunir o material que usou como base para a reportagem, McGraw encontrou informações que indicam que Ford também serviu de inspiração para o ditador nazista.

“Quando Hitler se preparava para assumir o poder, ele tinha uma foto de Ford na mesa, porque ambos pregavam a mesma coisa sobre judeus”, afirma o editor. “Ford nunca pregou a violência contra judeus, mas, no início dos anos 1930, nem Hitler falava em matar judeus.”

McGraw chegou a publicar a história na The Dearborn Historian. Ao tomar ciência da reportagem, porém, o prefeito da cidade mandou proibir a distribuição, e o contrato de McGraw com a publicação foi encerrado.

“Não sei por que ele tomou essa decisão. Muita gente diz que ele achou a reportagem ofensiva, que a família Ford acharia a reportagem ofensiva, mesmo que a empresa esteja lá há 100 anos.”

Ao New York Times o prefeito da cidade, do Partido Democrata, afirmou que, devido à atual diversidade étnica de Dearborn, com um terço de sua população árabe-americana, era “irresponsável apresentar as opiniões ofensivas de Ford.”

Segundo O’Reilly Jr., ao apresentar informações de cem anos atrás com mensagens de ódio, a edição da revista se tornaria “uma distração da nossa mensagem contínua de inclusão e respeito.”

McGraw diz ter avisado ao prefeito que a repercussão da censura seria pior do que a publicação da reportagem. “Estou surpreso que o Brasil vai escrever sobre isso”, diz. “Ele é um prefeito bom, mas cometeu um erro. Agora ele entende o poder da internet.”

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