Domingo, 09 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de novembro de 2025
Às vésperas do início oficial da COP30, o presidente da conferência climática da ONU, André Corrêa do Lago, se diz satisfeito com o número de países representados em Belém. O embaixador afirma que a agenda do clima resistiu a um ano de “bordoadas” iniciadas com a posse de Donald Trump e a decisão do presidente dos Estados Unidos de retirar o país do Acordo de Paris, que fixa metas para frear o aquecimento global.
1. Pela primeira vez, a cúpula de líderes ocorreu antes do início oficial da COP. O que os dois dias de debates apontam para a conferência que começa nesta segunda-feira?
A grande presença de delegações em Belém foi algo muito positivo e altamente simbólico. Mostrou que há grande apoio ao tema do clima em um ano no qual essa agenda levou muita bordoada. Foram vários fatos que aconteceram em consequência da eleição do Donald Trump. Acabaram com o grupo de banqueiros que discutia clima, houve a declaração do Bill Gates… Nesse contexto, foi muito bom ter tanta participação. Sem a menor dúvida, o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) foi central. Nós estamos na Amazônia e lançamos uma ideia de fundo de valorização de florestas, que foi proposta por um país florestal, não por um país doador. Isso foi muito inovador. O TFFF não precisa de negociação ou aprovação na COP, porque é um instrumento de implementação. Graças a ele, a cúpula mostrou que é possível passar para uma fase de implementação.
2. Mais de 50 países deram apoio político ao TFFF, mas menos de dez se comprometeram com aportes financeiros. Isso o decepcionou?
Não estou nem um pouco decepcionado. Ao contrário: penso que foi um grande sucesso. A sinalização foi muito clara. O fundo é inovador, e muitos países ainda têm que fazer discussões internas para confirmar a entrada.
3. Trump refuta o aquecimento global e voltou a retirar os EUA do Acordo de Paris. A cúpula dará alguma resposta a essa nova onda de negacionismo?
O próprio fato de a COP acontecer já é uma grande reação. Até o momento, não há nenhuma indicação de outro país que vá sair do Acordo de Paris. Algo que, aliás, também não ocorreu da outra vez (no primeiro governo de Trump). Realizar a COP é uma maneira de dizer que o mundo ainda acredita que a melhor maneira de lidar com o tema do clima é através do multilateralismo, mesmo que os EUA tenham uma opinião diferente.
4. O boicote dos EUA pode atrapalhar a conferência?
Ignorar a COP é, de certa forma, uma confirmação da decisão de sair do Acordo. Uma coisa é os Estados Unidos ficarem em um organismo internacional e lutarem pelas suas posições. Se eles já anunciaram que vão sair do acordo, o mais lógico é não participar.
5. Apesar da ausência do governo americano, alguns prefeitos e governadores democratas dos EUA vieram a Belém. A presença deles terá algum efeito prático?
Se só estivéssemos pensando na negociação do clima, não teria, porque prefeitos e governadores não podem negociar em nome de seus países. No entanto, cidades e estados podem implementar (políticas climáticas). Então a presença deles fortalece a ideia de que será uma COP da implementação.
6. Que resultados o senhor espera da COP30?
A COP precisa produzir resultados diferentes para públicos diferentes. Os negociadores pensam que a COP é só deles, mas a conferência tem outras tarefas, como convencer o grande público de que está na hora da implementação. Precisamos reconquistar a confiança da sociedade civil nessa agenda. Por causa da COP, as pessoas estão falando de clima.
7. A eliminação dos combustíveis fósseis não está na pauta oficial da COP, mas é tema onipresente nos debates em Belém. O que esperar dessa agenda?
O presidente Lula está muito convencido de que algo terá que ser dito na COP sobre os combustíveis fósseis. Ele falou no tema duas vezes na cúpula de líderes, em um tom que impressionou. Não está mandatado (na pauta oficial da conferência), mas alguma coisa pode sair. (As informações são de O Globo)