Quarta-feira, 01 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de maio de 2022
Um soldado russo de 21 anos pediu a uma viúva ucraniana que o perdoasse pelo assassinato de seu marido, enquanto um tribunal de Kiev se reuniu para uma segunda audiência nesta quinta-feira no primeiro julgamento de crimes de guerra pela invasão do país pela Rússia em 24 de fevereiro.
Vadim Shishimarin, comandante de tanques, se declarou culpado na quarta-feira de matar um civil desarmado de 62 anos, Oleksandr Shelipov, na vila de Chupakhivka, no nordeste da Ucrânia, em 28 de fevereiro.
“Reconheço minha culpa… peço que me perdoe”, disse ele à viúva, Kateryna Shelipova, na audiência de quinta-feira com a presença da Reuters.
Vestido com um agasalho e com a cabeça raspada abaixada, Shishimarin falou calmamente, mas parecia assustado.
O Kremlin disse que não tem informações sobre o julgamento e que a ausência de uma missão diplomática na Ucrânia limita sua capacidade de fornecer assistência jurídica.
A viúva disse no tribunal que ouviu de seu quintal tiros distantes disparados e que chamou o marido no dia em que ele foi morto.
“Corri para o meu marido, ele já estava morto. Um tiro na cabeça. Eu gritei, gritei tanto”, contou ela, falando com seu sotaque rural. Ela parecia perturbada e sua voz tremia de emoção.
Shelipova disse que não se oporia se Shishimarin fosse libertado para a Rússia como parte de uma troca de prisioneiros para tirar “nossos meninos” da cidade portuária de Mariupol, uma referência a centenas de soldados ucranianos que se entregaram à Rússia.
O soldado ficou de cabeça baixa durante o depoimento de Shelipova sobre a morte do marido.
Prisão perpétua
Promotores da Ucrânia pediram a prisão perpétua do soldado russo Vadim Shishimarin. A vítima estava desarmada em uma estrada, andando com a bicicleta ao lado e falando no telefone. Essa ainda não é a sentença do julgamento, mas mostra que a Justiça local espera aplicar penalidade máxima contra o soldado. O caso será retomado na manhã desta sexta-feira.
Promotores levaram para a Corte várias armas consideradas provas do crime cometido pelo militar. Shishimarin foi questionado se reconhecia alguma delas, ao que ele respondeu que sim. O número na arma também correspondia ao que ele infoprmou anteriormente. O celular do civil morto também foi examinado, apenas para provar que era dele.
Na primeira audiência, o promotor Andriï Syniouk explicou que o acusado foi preso em 1º de março com outros três soldados, sendo que um quinto foi morto um pouco antes durante combates. No início de maio, as autoridades ucranianas publicaram um vídeo em que ele dizia ter vindo lutar na Ucrânia para “apoiar financeiramente sua mãe”.
O caso é difícil, segundo o advogado do réu, Victor Ovsiannikov. “Nunca tivemos tal acusação na Ucrânia, não temos precedentes, nenhum veredicto. Mas chegaremos lá”, afirmou, garantindo que não encontrou “nenhuma violação dos direitos” dos acusados pelas autoridades. As informações são da agência de notícias Reuters e do jornal O Globo.