Domingo, 08 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 5 de janeiro de 2019
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Não gosto das listas de prioridades para o ano novo, por duas razões: você pode fazer a lista em qualquer época do ano; e, principalmente, não aprecio esforço inútil, vale dizer, não tenho nenhuma intenção de cumprir.
É o caso das dietas. Estufado, enfarado, com as roupas cada vez mais apertadas, pneus (os da barriga, não os do carro) à mostra, das fartas iguarias de final de ano e das licenciosidades da estação, tudo desanda na primeira festa. Dieta mesmo só a da ressaca, que deixa os miolos moles, que provoca náuseas até do cheiro de comida, e quando até uma sonata relaxante soa como um sino de catedral a um metro de distância.
Já fiz promessas de fim de ano. Um ano desses, prometi atender com toda a atenção a mocinha do call center. Por que perder logo a paciência se tudo que ela está fazendo é o seu trabalho, a dura lida de convencer a clientela das excelências de um novo produto? É assim que o mundo gira.
A minha amável intenção durou somente até a primeira ligação. A vendedora Jéssica – uma boa parte delas se chama Jéssica – disse que me haviam agraciado com uma oferta imperdível, em razão do meu bom comportamento – o que significava apenas que eu pago em dia minhas obrigações. Que a minha conta de Net iria diminuir, e coisa e tal. Parei por ali.
Já acreditei em muita coisa, que era possível perder peso sem diminuir a comida, que podia aprender inglês dormindo. Já acreditei – desculpem, leitores – em Ciro e Aécio. Mas minha boa-fé não é tão elástica a ponto de acreditar que a Net iria pagar uma operadora de call center apenas para me conceder um desconto. Desliguei delicadamente na cara da Jéssica.
Em 2019 não darei conselhos. Ninguém segue conselhos, sobretudo se forem sensatos. E já que estamos falando de sensatez, estou firmemente decidido a só falar mal de um colega, amigo ou parente pelas costas. Trata-se de uma medida civilizada de evitar encrenca. Falar pelas costas é sinal de grande consideração pela vítima. Podem perguntar a quem entende: é falta de educação ser sincero, falar pela frente. O que os ouvidos não ouvem o coração não sente.
Terei uma abordagem positiva para a fofoca. Descobri que ela – a fofoca – foi relevante para a evolução das relações humanas, desde os primórdios. Os nossos avós ancestrais se reuniam na aldeia, ou na caverna, para falar dos seus contemporâneos. E ali trocavam informações sobre mentirosos, tratantes, os que não gostavam do batente, coxinhas e mortadelas da época. Bem conhecidos os colegas e vizinhos, todos se precaviam para não entrar em fria. Desconfio que era também uma forma de identificar os chatos.
Há coisas que não pretendo fazer ano que vem. Não vou deixar de viajar à Paris só porque o Bolsonaro disse que a vida por lá “anda insuportável”. Não frequentarei redes sociais: a obtusidade e a burrice são doenças contagiosas. Não dou o braço a torcer e continuo firme na teoria de que o Brasil não corre o menor risco de dar certo.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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