Segunda-feira, 08 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de junho de 2015
Dentro de sete meses, 20 milhões de filhotes de peixe pesando 30 g –menos que um pãozinho francês– serão transferidos para gaiolas de aço flutuantes no rio Paraná.
Seis meses depois, com quase 1 kg, serão o primeiro lote do maior investimento feito no País em aquicultura (produção em cativeiro).
O projeto, que será anunciado nos próximos dias, começará com 25 mil toneladas por ano, mas prevê quaduplicar a produção até 2020.
Se o cronograma for seguido, o Brasil chegará perto de dobrar sua produção atual, de 150 mil toneladas anuais.
Os US$ 51 milhões investidos na primeira etapa são 100% capital próprio da Tilabras, parceria entre uma das maiores produtoras de tilápia do mundo, a americana Reagal Springs, e a brasileira Axial, holding que atua no setor por meio da Mar & Terra.
Num terreno equivalente a um terço do parque Ibirapuera, comprado na última semana em Selvíria (MS), nas margens do rio, será construído também um frigorífico.
Nos próximos 15 dias, a empresa pedirá à União concessão para explorar uma superfície fluvial cem vezes maior, pelo período de 20 anos, renováveis por mais 20.
Milagre de Jesus
É com a tilápia, espécie originária do rio Nilo e apontada como o peixe que Jesus multiplicou perto do mar da Galileia, que o governo brasileiro pretende expandir sua presença no mercado global.
“É um divisor de águas tanto em relação à escala do empreendimento quanto à estatura da empresa. Certamente vai chamar a atenção de competidores internacionais”, diz o ministro da Pesca, Helder Barbalho.
O governo federal procurou sete Estados para tentar destravar o licenciamento ambiental da atividade: as empresas precisam provar que não vão poluir as águas com excesso de ração, dejetos e animais mortos.
Outra preocupação é impedir que as resistentes tilápias, presentes em quase todo País, se espalhem pela Amazônia, onde o cultivo é proibido.
Atrás de boi e frango
Mesmo sem essa região, o potencial do Brasil é enorme, na avaliação de Sylvio Santoro Filho, diretor de projeto da Tilabras. Estão no País as maiores reservas de água doce do mundo, o clima quente favorece a engorda dos peixes e o consumo global cresce.
A empresa planeja exportar 70% de seus peixes em 2020, principalmente para os EUA, maiores consumidores.
O fato de que o brasileiro come poucos pescados –a média é inferior a 10 kg de pescado por pessoa por ano, abaixo dos 12 kg recomendados pela OMS e metade da média global (19 kg)– é visto como oportunidade de expansão pela nova empresa.
O Mato Grosso do Sul foi escolhido por ser grande produtor de grãos, outro ponto forte do Brasil. Soja é insumo da ração, o principal item da planilha de custos da empresa, chegando a 70%. A Tilabras produzirá sua própria ração quando estiver criando 50 mil toneladas de tilápia, ponto que viabiliza a fábrica.
A expectativa é que o país, hoje líder na exportação de carne bovina e de frango, galgue posições também no setor de pescados. “Saímos de pequenos produtores nacionais e passamos a multinacionais. Abriram-se as comportas para que empresas da mesma grandeza enxerguem o Brasil como oportunidade sensacional”, diz Barbalho.
Santoro admite o risco de novos competidores, mas defende que a Tilabras tem o trunfo do pioneirismo. “Até se instalarem, já teremos ampliado e conquistado o mercado interno, fator importante de viabilidade econômica.” (Folhapress)