Sexta-feira, 16 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 2 de dezembro de 2015
Uma angústia transformou-se em história de solidariedade. Há alguns anos, enquanto o fotógrafo Nauro Junior e a sua esposa Gabriela Mazza aguardavam o nascimento de suas duas filhas, ele assistiu ao filme Adorável Professor, protagonizado pelo ator Robin Williams. Na história, o filho do maestro Richard Dreyfuss é surdo. Durante as cenas, Nauro sentia-se desconfortável com o fato de Richard não poder mostrar ao filho o seu talento musical.
Refletindo sobre a história, Nauro chegou a uma questão: “E se minhas filhas nascessem cegas? Como eu mostraria minhas fotografias?”. A partir daí, ele resolveu buscar a Associação Escola Louis Braille, de Pelotas, e de alguma maneira contribuir no processo de aprendizagem dos alunos, todos deficientes visuais. Amigo de dois grandes fotógrafos cegos, o francês Evgen Bavcar e o paulista Teco Barbero, resolveu aprender técnicas de fotografia para pessoas que não enxergam.
Em 2015, 20 alunos da Louis Braille passaram a integrar o projeto Luz na Escuridão, onde durante 12 meses aprenderam e se inseriram no mundo da fotografia. E como isso foi possível? Nauro explica: “As imagens não são construídas pelos olhos. Quando a gente sonha, criamos imagens com os olhos fechados. Então quem constrói a imagem é nossa subconsciência, a nossa inteligência”.
Derrubando as barreiras de preconceito que surgiam em sua volta, Nauro decidiu que mostraria que a visão é apenas um dos sentidos dos seres humanos. “Nós temos muitos sentidos e enxergamos o mundo não só através de um deles. Existe várias formas de construir uma imagem sem usar os olhos”, afirma. Conforme o fotógrafo, 80% das informações que chegam até os seres humanos são pelos olhos, mas apenas 15% delas são absorvidas. “Isso porque não nos aprofundamos, mas também mostra que não é necessário ter a visão para obter informação”, acrescenta.
O equipamento utilizado durante as aulas eram os mais simples possível. “Os alunos levavam o material que tinham em casa e também utilizavam minha máquina semi-profissional 5D”, explica Nauro. Uma das técnicas utilizadas era a fotografia de alimentos: “Eles tocavam naquilo que queriam registrar e depois fotografavam”. Cada um dos 20 alunos criou um perfil no Facebook e, na rede social, puderam mostrar a amigos e desconhecidos seu talento.
Um dos momentos mais marcantes para Nauro foi um dia em que uma de suas alunas perguntou se poderia fotografar o vento. Ele levou a turma inteira até a praia de Laranjal/RS. “Eles puderam conhecer várias coisas que interagiam com o vento, entre elas o mar. E eu disse: ‘agora vocês podem fotografar o vento’. Foi um dos dias mais alegres do projeto”, relembra.
O futuro através das lentes
O desejo do fotógrafo não é de transformar seus alunos em fotógrafos profissionais, mas possibilitar a interação com o mundo através da imagem. Em 2016, a meta é formar uma turma com crianças. A equipe, composta por fotógrafos, assim como Nauro, auxiliam voluntariamente o projeto Luz na Escuridão. Ele explica que o nome da iniciativa não fala da escuridão de não enxergar e sim, da escuridão da indiferença.
Da primeira turma, 13 alunos se formaram neste ano: “Todos convictos de que estavam fazendo algo real. Aprenderam que não é a máquina que faz a foto. Ela é um ser inanimado que fica parado em um canto, até que alguém a toque e faça a sua vontade através dela”. Os trabalhos produzidos ao longo do ano foram expostos na galeria da Sociedade Científica Sigmund Freud, em Pelotas.
Um dos resultados do projeto foi o convite para palestrar em um congresso de inclusão no Rio de Janeiro, em março do ano que vem. E Nauro comemora: “No início é difícil mostrar que esse trabalho é real. Mas depois da explicação, as pessoas entendem que tudo pode ir bem mais além do que enxergamos”.
Prêmio
Nesta terça-feira (01), durante a celebração do 67º aniversário do Sinepe-RS (Sindicato do Ensino Privado Gaúcho), o projeto recebeu bronze na categoria Participação Comunitária nos Prêmios Sinepe-RS 2015.