Sábado, 15 de novembro de 2025
Por Gisele Flores | 15 de novembro de 2025
Evento reuniu representantes da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura e de universidades brasileiras
Foto: Divulgação Seapi
O Rio Grande do Sul marcou presença na COP30, com a apresentação do Projeto Reflora, iniciativa que alia ciência e tecnologia para acelerar a recuperação de áreas degradadas. A proposta, conduzida pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), abriu a série de quatro participações do Estado na conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
O painel “Resgate de DNA e indução de florescimento precoce de árvores nativas dos biomas brasileiros – Reflora” reuniu representantes da Seapi, da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) e de universidades brasileiras. O objetivo foi mostrar como técnicas de resgate genético e indução hormonal do florescimento podem reduzir drasticamente o tempo de restauração ecológica, especialmente em regiões afetadas por desastres ambientais ou grandes empreendimentos.
O método já foi aplicado em áreas críticas, como a região atingida pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG). Ali, o projeto permitiu recuperar espécies nativas ameaçadas e acelerar a recomposição da vegetação. Segundo o professor Gleison Augusto dos Santos, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), criador da técnica, plantas que demorariam décadas para florescer passaram a produzir sementes em apenas seis meses a um ano.
Outro exemplo vem da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (PA), onde houve grande perda de cobertura florestal. O Reflora contribuiu para a reintrodução de espécies nativas e para a recomposição da vegetação, mostrando que a tecnologia pode ser replicada em diferentes biomas.
Agora, o projeto chega ao Rio Grande do Sul, em parceria com a UFV, para atuar nos biomas Pampa e Mata Atlântica, especialmente nas áreas atingidas pelas enchentes de 2024. A proposta prevê o resgate genético e a indução de florescimento precoce de 30 espécies nativas ameaçadas ou em risco de extinção, priorizando aquelas com maior relevância ecológica para as bacias hidrográficas gaúchas.
Serão plantadas mais de 6 mil mudas dessas espécies ao longo de três anos. As etapas incluem coleta de DNA em campo, enxertia, indução do florescimento e plantio nas áreas impactadas. A técnica reduz o ciclo de restauração de 20 a 30 anos para apenas cinco a oito anos, acelerando o retorno dos serviços ecossistêmicos, como regulação hídrica, produção de sementes e frutos, e recomposição da biodiversidade.
O Projeto Reflora contará com R$ 5,21 milhões em investimentos. Desse total, R$ 2,86 milhões serão aportados pela CMPC e R$ 2,34 milhões pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Os recursos serão destinados à instalação de casas de vegetação, sistemas de fertirrigação, contratação de serviços para coleta de propágulos vegetativos, aquisição de insumos e concessão de bolsas de pesquisa.
O coordenador do projeto pela Seapi e do Plano ABC+ RS, Jackson Brilhante, destacou que levar o Reflora à COP30 é um marco para o Estado. “Estamos empenhados na recuperação dos ecossistemas e na ampliação de uma produção mais sustentável no campo. Mais uma demonstração nesse sentido foi dada na COP”, afirmou.
Para o professor da Universidade Federal do Pará, José Hernández Ruz, o Reflora responde a um desafio global: garantir alimentos e serviços ecossistêmicos em um cenário de mudanças climáticas. “Com esse projeto, contribuímos para reduzir o tempo necessário para gerar sementes e frutos de importância econômica, fortalecendo a produção sustentável”, avaliou.
A presença do Rio Grande do Sul na COP30 reforça o papel estratégico do Estado na agenda ambiental e agropecuária. Ao unir ciência, inovação e políticas públicas, o Reflora mostra que é possível conciliar produção agrícola e conservação ambiental, criando um modelo de desenvolvimento que pode ser replicado em outras regiões do Brasil e do mundo.
Com o Reflora, o Rio Grande do Sul reafirma seu compromisso em liderar soluções inovadoras para o agro e para o meio ambiente e projeta o estado como referência internacional em sustentabilidade. (por Gisele Flores)