Segunda-feira, 27 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de janeiro de 2020
O Irã prometeu uma retaliação depois que seu comandante militar mais poderoso foi morto em um ataque aéreo dos Estados Unidos no aeroporto de Bagdá (Iraque), na quinta-feira (2/1). Para Washington, Soleimani era um homem que tinha o sangue de americanos nas mãos. Mas, no Irã, ele era popular. Na prática, foi Soleimani quem liderou a reação de Teerã contra a ampla campanha de pressão e sanções impostas pelos EUA.
Ao explicar a decisão de matar Soleimani, o Pentágono se concentrou não apenas nas ações passadas do general, mas insistiu que se tratava de uma medida de intimidação e prevenção. O general, diz o comunicado do Pentágono, estava “desenvolvendo ativamente planos para atacar diplomatas e militares dos EUA no Iraque e em toda a região”. Mas, diante de uma escalada de tensão e das promessas de vingança, o que sabemos sobre o poderio militar do Irã?
Estima-se que existam 523 mil iranianos em uma série de funções militares, de acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um centro de estudos britânico. Isso inclui 350 mil no Exército regular e pelo menos 150 mil na Guarda Revolucionária iraniana. Força Aérea e Marinha não são braços separados, como no Brasil e em outros países. No Irã, estão subordinadas ao Exército.
Há mais 20 mil oficiais em serviço nas forças navais da Guarda. Esse grupo opera vários barcos-patrulha armados no Estreito de Ormuz, local de vários confrontos envolvendo navios-tanque de bandeira estrangeira em 2019. A Guarda Revolucionária iraniana também controla a unidade Basij, uma força voluntária de repressão à dissidência interna. Essa unidade pode potencialmente mobilizar muitas centenas de milhares de pessoas.
A Guarda foi criada há 40 anos para defender o regime islâmico no Irã e se tornou uma importante força militar, política e econômica por si só. Apesar de ter menos tropas do que o Exército regular, a Guarda é considerada a força militar de maior autoridade no Irã.
A Força Quds, que era liderada pelo general Soleimani, conduz operações secretas no exterior para a Guarda Revolucionária iraniana e reporta diretamente ao aiatolá Ali Khamenei. Acredita-se que ela seja formada por cerca de 5 mil homens. A unidade foi enviada à Síria, onde orientou elementos militares leais ao presidente sírio Bashar al-Assad e milícias xiitas armadas que lutavam ao seu lado. No Iraque, apoiou uma força paramilitar dominada pelos xiitas que ajudou a derrotar uma parte do grupo autodenominado Estado Islâmico (que é um grupo jihadista sunita).
No entanto, os EUA afirmam que a Força Quds tem um papel mais amplo, fornecendo financiamento, treinamento, armas e equipamentos para organizações que Washington designou como grupos terroristas no Oriente Médio. Esses incluem o movimento Hezbollah, do Líbano, e a Jihad Islâmica, da Palestina.
Problemas econômicos e sanções internacionais prejudicaram as importações de armas do Irã, que são relativamente pequenas em comparação com as de outros países da região. O valor das importações de defesa do Irã entre 2009 e 2018 foi equivalente a apenas 3,5% das importações da Arábia Saudita no mesmo período, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz, de Estocolmo.
Um relatório do Departamento de Defesa americano descreve as forças dos mísseis do país como as maiores do Oriente Médio, compreendendo principalmente mísseis de curto e médio alcance. Ele também diz que o Irã está testando uma tecnologia espacial para permitir o desenvolvimento de mísseis intercontinentais, que podem viajar muito mais longe.
No entanto, o programa de mísseis de longo alcance foi paralisado pelo Irã como parte de seu acordo nuclear de 2015 com países estrangeiros, segundo o gabinete estratégico do Royal United Services Institute (Rusi). O projeto, porém, pode ter sido retomado, dada a incerteza em torno desse acordo. De qualquer forma, muitos alvos na Arábia Saudita e no Golfo estariam ao alcance dos atuais mísseis de curto e médio alcance do Irã, e possivelmente alvos em Israel — aliado americano.