Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 8 de outubro de 2023
Taxa Selic, variação cambial, superávit comercial, reservas internacionais, além de diversas outras terminologias que inundam o eleitor brasileiro sobre a situação econômica do País parecem grego aos ouvidos de quem apenas tem a missão do dia para resolver. O brasileiro comum está cada vez mais endividado e só quer saber do básico para poder sobreviver e passar pelas dificuldades do cotidiano. Talvez por isso, a sensação de melhora econômica parece muito mais crível aos olhos populares do que grandes mudanças estruturantes na política econômica.
Quase 80% dos brasileiros – quatro em cada cinco pessoas – iniciaram 2023 com dívidas, segundo a Confederação Nacional do Comércio. É um marco, que coloca o Brasil entre as dez nações com a população mais endividada do mundo. O valor da dívida média do brasileiro é quatro vezes um salário mínimo. Em pesquisa divulgada pela Genial/Quaest, 31% dos entrevistados assumiram ter dívidas, índice que aumenta na população de menor renda, que recebe até R$ 2.640 mensais.
Programas federais
Nesse contexto de desajuste completo, o governo federal lançou dois programas para tentar diminuir o endividamento popular: o Renegocia! e o Desenrola Brasil. O debate sobre a questão ganhou força na eleição presidencial. O então candidato do PDT, Ciro Gomes, polemizou ao prometer que limparia o nome de todos os cidadãos que tinham restrições no SPC e no Serasa. A promessa não pareceu muito real aos olhos dos eleitores, o que culminou em uma enxurrada de memes e brincadeiras nas redes sociais.
Um dos pontos mais importantes ao observar a questão econômica e o voto é que o Brasil é país de imensa maioria pobre. De acordo com o Critério Brasil, da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), são 28,7% os brasileiros de classe D, 26,4% de classe C2 e 21,1% de classe C1, ou seja, 76,2% ou ¾ da população são de classe C e D. Assim, a economia do dia a dia é a que ganha maior relevância para as pessoas e o link com as mudanças macroeconômicas é absolutamente longínquo para compreensão da maioria do povo.
Queda nos preços
Em grupos qualitativos, a maior vitória até agora do governo Lula foi a diminuição do preço dos alimentos e de serviços básicos, como gás de cozinha. Muito mais do que o programa de renegociação de dívidas, a percepção da diminuição da carestia é o grande ativo de aprovação por boa parte dos eleitores. Esse entendimento remonta a questões do passado, como quando o mundo passava por uma grande crise e, no Brasil, alcunhava-se essa tormenta de marolinha. Os preços, principalmente de itens da chamada linha branca, eram baixos, e o crédito, fácil e abundante.
Esse resgate de memória do período de bonança, nas primeiras gestões de Lula, cria expectativa no eleitor de um retorno desse mesmo momento. Em uma pesquisa da Radar Febraban, 73% dos brasileiros estão otimistas na melhora econômica nos aspectos pessoais e familiares. Não se consegue fazer um contraponto crítico de que a derrocada no governo Dilma Rousseff teve a ver com certa irresponsabilidade na condução econômica, que incentivou crédito em um período de grave crise mundial.
Bolso e eleição
Em pesquisa Datafolha, antes da eleição de 2022, 58% dos entrevistados diziam que Lula era o candidato mais preparado para combater a fome ante apenas 19% que consideravam Bolsonaro. Para 65%, Lula é quem mais defende os pobres, patamar bem distante dos 17% que consideraram o ex-presidente. Esses números mostram a imensa diferença de sentimento que a população tem quando se associa a discussão entre pobreza e economia.
Para o brasileiro, mais vale um voo de galinha do que a promessa do voo de águia. Como as necessidades são urgentes, as dívidas se acumulam, o resultado imediato tem muito mais valor do que o planejamento necessário. Dificilmente, a direita ou os liberais conseguirão adentrar no voto das classes mais baixas, se não entenderem que é preciso falar para elas. Não adianta discurso professoral e anúncio de grandes mudanças sem que o impacto seja sentido por quem mais precisa. O pragmatismo lulista vai conseguindo novamente níveis de aprovação satisfatórios, mesmo em meio a um governo que, ainda, não conseguiu apresentar grandes mudanças.