Quinta-feira, 25 de setembro de 2025
Por Rogério Pons da Silva | 24 de setembro de 2025
Sidônio Palmeira
Foto: ABrEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Em artigo recentemente publicado neste caderno de O Sul, o ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, faz referência à mudança da expressão “governo federal” para “governo do Brasil”. Como se, assim, fosse possível alterar a realidade do país e, de forma efetiva, melhorar as condições de vida dos brasileiros.
No texto, o ministro defende que os ricos devem pagar mais impostos e os pobres menos, sob a justificativa de promover a justiça social. A ideia seria arrecadar mais para que o governo tivesse recursos destinados a quem mais precisa. Mas será que funciona? Até hoje, isso nunca deu certo.
Trata-se de um argumento típico: cobrar mais impostos de poucos para distribuir a muitos — estratégia assistencialista bastante conhecida e aplicada por governos populistas.
Mas fica a pergunta:
Uma pessoa que tem 25 vezes mais recursos que outra deve pagar mais impostos?
Antes de responder, é preciso considerar as contingências da vida, as escolhas pessoais e o fator tempo.
Acompanhe esta história:
Dois personagens, mesma classe social, mesma idade, mesma profissão e a mesma capacidade de produzir riquezas.
O sr. Jojô trabalhou dos 20 até os 55 anos, quando se aposentou. Levou uma vida de festas, casa cheia, viagens e gastos. Era o seu estilo. Teve cinco filhos e, quando faleceu, deixou um patrimônio de R$ 100 mil — cada herdeiro recebeu R$ 20 mil.
O sr. Jajá, por sua vez, também começou a trabalhar cedo, na mesma profissão. Após a aposentadoria, continuou ativo. Avesso a festas e viagens, aproveitava as férias para fazer bicos e economizar. Era o seu estilo. Teve apenas um filho e, quando faleceu, deixou R$ 500 mil ao herdeiro.
Na visão defendida pelo “governo do Brasil”, o filho do sr. Jajá deveria dividir, de alguma forma, parte dos R$ 500 mil herdados com os cinco filhos do sr. Jojô, que ficaram apenas com R$ 20 mil cada. Isso é justiça social?
As contingências da vida são inerentes às escolhas e ao estilo de cada pessoa. Por isso, a ênfase deve estar não em impor igualdade de resultados, mas em garantir igualdade de oportunidades.
Todos, sem exceção, deveriam ter acesso às mesmas condições de educação e de desenvolvimento de habilidades. Considerando que a educação pública no Brasil tem, historicamente, baixa qualidade, seria justo que os filhos de servidores públicos municipais, estaduais e federais estudassem em escolas da rede pública e utilizassem o SUS em vez de planos de saúde. Isso sim seria igualdade e justiça social com os trabalhadores do setor privado.
Alguém duvida de que a educação e a saúde públicas melhorariam rapidamente?
Há 50 anos ouvimos políticos prometerem prioridade para a educação. Nunca foi.
O espaço e o tempo
Em pequenas comunidades afastadas dos grandes centros urbanos, as pessoas tendem a ter qualidade de vida e poder aquisitivo mais equilibrados. Por quê? Porque há melhor educação.
Mas o fator temporal é ainda mais cruel: um trabalhador de 70 anos, que passou meio século produzindo e acumulando algum patrimônio, não pode ser comparado a um jovem de 20 anos.
Pergunte a um idoso se ele trocaria tudo o que conquistou para voltar a ter 20 anos. Nossa maior riqueza é o tempo — e só os mais velhos sabem disso.
Então, afinal, quem é o rico?
As circunstâncias do nascimento, a cultura familiar e a capacidade cognitiva para desenvolver habilidades não podem ser niveladas por decreto. O que se pode fazer, por meio do processo civilizatório, é assegurar igualdade de oportunidades. Mas sem esquecer que a competição faz parte da natureza humana.
Competir é lei natural: sem competição, a sociedade estaciona, não evolui, pode até desaparecer.
A maior riqueza não é o dinheiro, mas a habilidade de produzir riqueza. Uns irão mais longe, outros menos — e é preciso aceitar isso. Mas todos devem gerar sua própria prosperidade, sem depender da riqueza alheia.
Isso é bonito, digno e, acima de tudo, sustentável.
Rogério Pons da Silva
Jornalista e empresário
rponsdasilva@gmail.com
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.