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Por Redação O Sul | 15 de abril de 2018
Sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial deste ano, a tendência é de pulverização dos votos. Em um primeiro momento, Marina Silva é a maior beneficiada, mas saída do petista abriria possibilidades para outros nomes, como Joaquim Barbosa, que começa a despontar. Favorito nas eleições 2018, Lula ficou mais distante de ver sua candidatura vingar após ser condenado em segunda instância em janeiro, o que o colocou na rota da Lei da Ficha Limpa.
Apesar de Lula estar preso desde o dia 7 de abril, o partido ainda mantém o ex-presidente como pré-candidato e se agarra ao lema “eleição sem Lula é fraude”.
Nos bastidores, no entanto, alguns membros da sigla já começam explorar silenciosamente cenários em que a candidatura do petista será mesmo barrada. Estão sendo estudadas alternativas como o ex-prefeito Fernando Haddad ou pelo ex-governador Jaques Wagner ou até mesmo uma aliança com o pré-candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes.
Tudo isso para tentar segurar junto ao partido as intenções de voto de Lula, que passam de 30%, segundo várias pesquisas.
Dispersão
A empresa de comunicação alemã Deutsche Welle, que produz conteúdo independente em 30 idiomas, avaliou o cenário das eleições presidenciáveis no Brasil, a partir da pesquisa Datafolha, e indicou em uma reportagem minuciosa que o PT vai enfrentar dificuldades de segurar os 30% de eleitores que tinham intenção de votar em Lula.
Os cenários sem Lula, por enquanto, indicam dispersão dos votos entre vários candidatos e um aumento gritante de votos brancos e nulos.
De acordo o analista Oliver Stuenkel, da FGV-SP, sem Lula na disputa, a eleição vai ser pulverizada.
Apesar dessa dispersão, já é possível apontar os candidatos que mais se beneficiariam imediatamente da ausência: Ciro Gomes e Marina Silva (Rede).
Ideologicamente próximo de Lula, Ciro Gomes vem assumindo um protagonismo. No PT, algumas figuras cogitam até mesmo oferecer ao pedetista a cabeça de chapa em uma eventual aliança, com um vice petista.
Segundo o instituto Datafolha, Marina poderia herdar, já num primeiro momento, 20% dos votos do petista. Ela tem uma trajetória biográfica com o mesmo apelo que a de Lula teve nas campanhas passadas. Ex-seringueira que se tornou senadora e ministra, ela também tem experiência em campanhas presidenciais.
No entanto, seu partido, a Rede, sofre com o raquitismo. Sem uma bancada relevante no Congresso, Marina nem sequer conta o número mínimo de deputados para garantir sua presença nos debates na TV.
Sem Lula na disputa, parte de seu eleitorado se mostrou, inclusive, disposto a apoiar até nomes da direita, como Jair Bolsonaro (PSL) e Geraldo Alckmin (PSDB).
Ainda sem Lula, Bolsonaro passaria, por enquanto, para a primeira posição isolada em todas as pesquisas. Segundo a última do Datafolha, ele chega a 17% das intenções de voto, em empate técnico com Marina Silva, que teria 15%.
Segundo o Datafolha, nos cenários sem Lula, um possível substituto petista como Jaques Wagner só seria capaz por enquanto de abocanhar 1% dos votos do ex-presidente.
O fator Joaquim Barbosa
Uma das incógnitas da próxima eleição presidencial é se o ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa será candidato, seja como cabeça de chapa ou vice. Em meio à confusão da prisão de Lula, ele se filiou sem alarde ao PSB, que terá 118,8 milhões de reais para o fundo de campanha.
Assim como Lula, Barbosa tem potencial para vender uma biografia para o eleitorado. Ele já começa a despontar nas pesquisas. Sem Lula na disputa, ele passa de 8% para 10% das intenções, segundo a última pesquisa Datafolha.
De acordo com a consultoria Eurasia, Barbosa não pode ser menosprezado. Um relatório recente apontou que Barbosa pode ter o perfil mais competitivo nesta eleição, já que possui credenciais anticorrupção e pode ser visto como alguém de fora do sistema político tradicional.
Esquerda
Durante o período em que permaneceu entrincheirado em São Bernardo do Campo aguardando a prisão, Lula fez seguidos elogios aos pré-candidatos Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’ávila (PCdoB). Mas o gesto foi interpretado como uma tentativa de unificar a esquerda em torno do PT.
Manuela e Boulos, por ora, aparecem como beneficiários modestos da herança de Lula. Ela só herda, por enquanto, 3% dos votos. Boulos, apenas 1%.
Nas eleições, o partido de Manuela vai contar com 30 milhões de reais do fundo de campanha. O Psol de Boulos, 21,4 milhões. Embora os valores sejam consideráveis para essas siglas, os dois partidos devem encontrar dificuldade para realizar campanhas de estatura nacional.