Terça-feira, 23 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de setembro de 2025
Dirceu evita comparações da anistia em discussão atualmente no Congresso com o indulto concedido a ele por Dilma
Foto: Lula Marques/Agência BrasilEx-ministro da Casa Civil no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu avalia como cálculo eleitoral o apoio do Centrão ao projeto de anistia em discussão na Câmara. A conta, segundo ele, leva em consideração a aprovação de um projeto que mantenha o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível, mas possa convencer a base bolsonarista a apoiar o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como candidato ao Palácio do Planalto em 2026.
Em entrevista, Dirceu evita comparações da anistia em discussão atualmente no Congresso com o indulto concedido a ele pela ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, após ter sido condenado no Mensalão.
“Eu cumpri minha pena. Eles não querem cumprir a pena. Para você receber indulto, você tem que ter cumprido a lei. E mais, no meu caso, houve uma ilegalidade por ter sido mantido o regime fechado por sete meses e 15 dias. Estava condenado ao regime semiaberto. Eu cumpri o fechado, o semiaberto e o aberto. Eu teria que ter sido indultado em março de 2016, mas só fui em novembro. Estava pendente de uma decisão se era réu primário ou não. Como era primário, fui indultado. Também cumpri a pena na Lava-Jato, apesar de ela ter sido anulada. Foram 40 meses de regime fechado, um ano de tornozeleira sem sair de casa. De 2013 a 2019, fiquei só um ano em liberdade”, disse.
Ele também diz ver o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como fator de desequilíbrio na disputa do ano que vem. Não pelo seu apoio a algum candidato, mas pela rejeição às suas interferências no Brasil.
“A direita, sem o bolsonarismo, tem maioria na Câmara e no Senado. Portanto, ela pode aprovar medidas que considere seu interesse. Com a anistia, querem resolver o problema de 2026, porque eles estão sem uma definição. Ao se colocar antes (como candidato), o Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo) abriu um confronto com a família Bolsonaro e com a base bolsonarista. O Tarcísio não é líder, não tem voto. A base bolsonarista que dá voto para ele. Eles querem dar anistia para o Bolsonaro continuar inelegível e Tarcísio ser o candidato deles. Para ter o voto bolsonarista. E a questão da autoproteção é por causa das emendas impositivas, dos inquéritos da Polícia Federal e as ações do Supremo Tribunal Federal, através do ministro Flávio Dino. Isso leva a conclusão que precisamos de uma reforma política no Brasil”, disse.
Dirceu também falou sobre uma possível interferência dos EUA nas eleições do Brasil.
“Eles não têm como intervir no processo eleitoral em si, eles podem intervir com medidas. Não tem cálculo político no que o Trump faz, porque se não ele não teria feito o que fez no Canadá, que deu a vitória para os liberais contra os conservadores. Já aconteceu em outros países também da Europa. O candidato se alinha com Trump, perde a eleição. Eles apoiam os candidatos abertamente”, sustentou.