Sábado, 22 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de agosto de 2025
O Congresso Nacional ficou parado por dois dias. Não por calamidade, pane técnica ou atentado à segurança nacional, mas por uma decisão deliberada de parlamentares que optaram por travar os trabalhos em defesa de interesses que pouco dialogam com as urgências da população e muito se aproximam das prioridades de políticos investigados pela Justiça.
A movimentação, liderada por setores bolsonaristas, incluiu obstruções, ocupação do plenário e ameaças veladas à condução da Casa. A intenção era pressionar por anistia e mudança nas regras do foro privilegiado, o que evitaria que parlamentares fossem julgados pelo Supremo Tribunal Federal. O resultado foi mais ruído e mais desgaste institucional.
A política brasileira virou refém do confronto. Parlamentares que deveriam legislar passaram a atuar como militantes. A Câmara dos Deputados, um espaço de construção de consensos, virou arena de chantagem. Ao ceder diante da pressão, o presidente da Casa, Hugo Motta, abriu um precedente perigoso.
A ausência de resposta institucional clara e punitiva sinaliza que a estratégia pode se repetir. Aceitar que o grito se sobreponha ao voto é desfigurar o sentido do Parlamento e abrir um precedente muito perigoso.
O uso da ocupação como forma de pressão política não é novidade. Desta vez, partiu de setores da direita, mas já foi adotado pela esquerda em outros momentos. No entanto, jamais de forma tão grave. É um tipo de ato que tem sempre o mesmo objetivo: esvaziar a democracia representativa.
PROJETOS. No centro dessa disputa, a sociedade assiste ao bloqueio de pautas relevantes. Projetos sobre reforma tributária, responsabilidade fiscal, investimentos em infraestrutura e segurança pública ficam em segundo plano. O Brasil real, que precisa de emprego, estabilidade e previsibilidade, é atropelado por disputas internas de poder.
Não se trata de proteger o STF, tampouco de impedir o debate sobre o foro. Trata-se de manter a lógica do jogo democrático. Parlamentares não são ativistas. São legisladores. São pagos para negociar, votar e construir soluções dentro das regras do sistema que, por acaso, eles mesmo constroem. Quando cruzam a linha e adotam a intimidação como instrumento político, o que está em jogo não é um processo, é a institucionalidade do País.
A radicalização que se espalha pela política tem efeitos diretos na economia. A desordem afasta investimentos, pressiona o câmbio e inibe decisões de médio e longo prazos. Ninguém aposta em um país onde a lei parece maleável à força do grito. (Sergio Denicoli, CEO da AP Exata e Cientista de dados)