O Rio Grande do Sul é o principal produtor de trigo do Brasil e responde por quase metade da produção nacional. A cadeia envolve desde o melhoramento genético e a produção de sementes até agricultores, moinhos, indústrias alimentícias e o comércio. Para a safra brasileira 2025/26, a StoneX estima produção de 7,5 milhões de toneladas, impulsionada sobretudo pelo desempenho gaúcho.
No Estado, a colheita deve superar 3,7 milhões de toneladas, com produtividade média de 3.261 quilos por hectare e área estimada em 1,14 milhão de hectares, conforme levantamento da Emater/RS-Ascar. Segundo Arthur Machado, desenvolvedor de mercado da Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), as adversidades climáticas da safra de verão levaram produtores a avaliar com cautela os investimentos de inverno, o que impactou as decisões relacionadas ao trigo.
Apesar do potencial produtivo, o setor acompanha com preocupação a queda no uso de sementes certificadas. Estimativas da Apassul indicam que a taxa de adoção no Rio Grande do Sul recuou para 48%, o menor nível dos últimos anos. Isso significa que mais da metade das áreas é semeada com sementes salvas ou de origem não certificada, o que afeta a rastreabilidade, a padronização exigida pela indústria e o desempenho das lavouras.
O avanço genético das cultivares de trigo nos últimos anos trouxe ganhos em produtividade, tolerância a doenças e qualidade industrial. Desde 2013, o uso de sementes certificadas vinha se mantendo acima de 60%, acompanhando a evolução do melhoramento genético. Para Pedro Basso, CEO da SCV e conselheiro da Apassul para trigo e soja, a ampliação do uso de sementes de alta qualidade é um fator decisivo para melhorar os resultados da cultura no Estado.
Na avaliação da Embrapa Trigo, o potencial gerado pela pesquisa não chega de forma plena ao campo quando a adoção de sementes certificadas é baixa. O pesquisador Giovani Faé afirma que sementes de origem incerta rompem a rastreabilidade e limitam a expressão do potencial genético das cultivares. Segundo ele, a escolha por sementes não certificadas tende a gerar ganhos pontuais, mas compromete o sistema produtivo no médio e longo prazo.
A cadeia do trigo tem papel estratégico na segurança alimentar e na indústria de alimentos. A insuficiência da produção interna levou a indústria moageira a intensificar as importações. Dados da Secex/Cepea mostram que, até maio de 2025, o Brasil importou 3,092 milhões de toneladas de trigo, o maior volume em 24 anos. Nos últimos dez anos, o país gastou mais de US$ 11,3 bilhões com a compra líquida do cereal, segundo a Embrapa Trigo.
Para a Apassul, a redução no uso de sementes certificadas, somada às pressões de custo, restrições de crédito e instabilidades climáticas, representa um alerta para o futuro da cultura. Márcio Só e Silva, CEO da Semevinea Genética Avançada, afirma que a produtividade depende diretamente da qualidade da semente utilizada.
Outro ponto destacado é o financiamento da pesquisa. O pagamento de royalties pelo uso de germoplasma — entre R$ 11 e R$ 12 por saca de 40 quilos — contribui para a manutenção dos programas de melhoramento genético. Estimativas do setor indicam que cerca de 20% do faturamento das empresas é direcionado a pesquisa e desenvolvimento, sustentando a evolução tecnológica da cadeia do trigo.
