Domingo, 04 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 10 de outubro de 2021
Em 17 de setembro, brasileiros vacinados com a Coronavac que queriam viajar para a Alemanha receberam uma boa notícia: estava liberada a entrada no país europeu para visitas ou turismo apenas com um teste de covid-19 com resultado negativo. Em consequência, alguns compraram passagens para se reencontrar com familiares, após a pior fase da pandemia ter ficado para trás.
Seis dias depois, em 23 de setembro, veio um balde de água fria. Brasileiros vacinados com a Coronavac, na verdade, só poderiam viajar à Alemanha se comprovassem um motivo urgente. Voltava a valer a regra anterior, que permitia a entrada para visitas ou turismo apenas de brasileiros vacinados com os imunizantes aprovados pela União Europeia (UE): Pfizer-BioNTech, AstraZeneca e Janssen, aplicados no Brasil, e o da Moderna, não utilizado no território brasileiro.
A embaixada da Alemanha no Brasil e os ministérios alemães do Exterior, Saúde e Interior foram questionados pela DW Brasil sobre a razão da mudança de regra em tão pouco tempo, mas o motivo não foi esclarecido.
O Conselho da União Europeia recomenda aos países-membros que autorizem o ingresso para visitas ou turismo dos de fora do bloco vacinados com os imunizantes aprovados pela UE. O órgão também indica aos países que eles podem, se assim desejarem, permitir a entrada de inoculados com os imunizantes aprovados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
A Coronavac foi aprovada pela OMS no início de julho, e alguns países europeus, como Holanda, Finlândia e Espanha, já permitem a entrada de quem se vacinou com ela.
Choque
Uma que comprou passagem para Alemanha e reservou hotel logo após a informação de que a entrada estava liberada para os vacinados com a Coronavac foi Monica Pedro, de 62 anos, aposentada e moradora de São Paulo. Sua filha mora em Stuttgart, e o filho, em Nurembergue, e ambos trabalham em empresas alemãs.
O plano era ir para a Alemanha no início de dezembro para reunir a família e conhecer o neto, que nasceu há um ano, e voltar ao Brasil em janeiro. Ela e seu marido compraram a passagem em 17 de setembro, no mesmo dia em que a embaixada comunicou a flexibilização das regras – o comprovante das reservas foi enviado à DW.
“Uma semana depois, saiu a reportagem de que a Alemanha já tinha voltado atrás. Foi um choque”, disse. “Estamos há dois anos tentando ir para lá, quero ver meus filhos, conhecer meu neto, e por causa dessa pandemia não pudemos ir.”
Atualmente, a Alemanha permite a entrada de avós não vacinados (ou vacinados com a Coronavac) para visitar netos recém-nascidos, mas apenas por até seis meses após o nascimento.
Monica e seu marido cogitam esperar até meados de novembro antes de cancelar a passagem, “na esperança de que eles mudem as regras”.
Abaixo-assinado
A brasileira Ana Carolina Burghi, 30 anos, engenheira e moradora de Stuttgart, participa de uma iniciativa de imigrantes com pais e avós de nacionalidade de fora da UE que busca sensibilizar as autoridades alemãs para o problema da proibição de entrada de parentes imunizados com vacinas não aprovadas no bloco.
Ela relata muitos casos de famílias que moram na Alemanha e que estão privadas das visitas de pais e avós de países da América Latina, onde a Coronavac foi bastante usada, e da Rússia, que desenvolveu a Sputnik V, também não aprovada pela UE.
Inspirados pelo movimento “Amor não é turismo”, que pressionou autoridades alemãs a autorizarem a entrada durante a pandemia de parceiros de residentes alemães que não eram casados ou tinham residência na Alemanha e teve sucesso, uma mãe colombiana criou a página “Family is not tourism Germany”, da qual Burghi participa.
O grupo fez um abaixo-assinado online pedindo ao Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão) atenção para o tema, e reuniu pouco mais que 100 assinaturas. Nesta sexta-feira, eles receberam uma resposta de que a petição havia sido rejeitada, porque já havia outra de tema semelhante tramitando. O coletivo também pediu às crianças que desenhassem o que gostariam de fazer com os avós se eles pudessem visitá-los, e compartilhou os resultados em redes sociais.