Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de abril de 2023
Eventos difíceis, como o ataque que deixou quatro crianças mortas e outras cinco feridas em Blumenau, Santa Catarina, na manhã do último dia 5, podem afetar, seja a curto ou a longo prazo, o psicológico dos pequenos e de adolescentes. Cerca de 40 crianças de 3 a 7 anos estavam na creche Cantinho Bom Pastor no momento do ataque.
De acordo com Leila Tardivo, psicóloga e professora do Instituto de Psicologia da USP, quando se trata de crianças, o processamento da tragédia pode ser mais complexo, até mesmo por uma questão de percepção de mundo. Entretanto, isso não evita o impacto: “Independente de eles terem ou não noção do tamanho da tragédia, a ocasião assusta porque se cria um ambiente com criança chorando, pais desesperados, correria.”
Para a especialista, o mais importante para superar uma situação traumática é tentar promover um ambiente de segurança e acolhimento, demonstrando presença e apoio.
Em um primeiro momento, o recomendado é realizar um atendimento de “psicologia de urgência”, também chamada de “psicologia de desastres”. O termo refere-se a atendimentos para acontecimentos que não fazem parte da rotina, provocando estresse e trauma.
O atendimento visa a reduzir o impacto dessa situação. “A psicologia de emergência tem que garantir à criança e ao ambiente dela o mais possível conforto”, destaca a psicóloga.
Para além do atendimento de urgência, a sensação de segurança e de acolhimento devem tentar ser promovidas de forma contínua pelos pais e pela escola, enquanto as crianças ainda demonstrarem medo ou tristeza. “As crianças não sabem se expressar e ficam muito assustadas. É por isso que é preciso que o adulto acolha. Acolher a dor é necessário. É preciso ouvir e explicar, dentro do que é possível, o que aconteceu”.
Fazer a criança falar, promover atividades lúdicas, criar espaços para a expressão e promover homenagens aos amigos que se foram são algumas das ações recomendadas como forma de enfrentamento pela especialista, que frisa que é importante não ignorar a tragédia.
“Não dá para não fazer de conta que não aconteceu. Voltar à rotina não significa negar. Faz mal fingir que está tudo bem”. Por outro lado, é preciso ter cuidado para não pesar a mão em relembrar e dificultar a superação, alerta.
A psicóloga diz ainda que o impacto pode acontecer não somente nas crianças presentes, mas também nas que acompanharam o evento, seja pela mídia, redes sociais ou histórias próximas. “Eles podem, por exemplo, ter medo de ir para a escola. Os pais não podem brigar com a criança. É preciso dar esse tempo a ela, aos poucos ir voltando.”
Embora a situação provoque um impacto na mente da criança, a especialista explica que nem todas desenvolvem um trauma. “O trauma é a marca. É o que vem depois, manifestando-se em sintomas como insônia, terror noturno, agitação, sentimentos de solidão e medo, irritação.” Nesses casos, a recomendação é que haja um acompanhamento psicoterápico a longo prazo, para tratar e amenizar possíveis efeitos disso na adolescência e até mesmo na vida adulta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.