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Por Redação O Sul | 11 de março de 2019
A juíza Sucilene Eagles, titular da Vara da Comarca de Três Passos, encerrou às 21h desta segunda-feira o primeiro dia de julgamento dos réus do processo sobre o assassinato do menino Bernardo Boldrini, cometido em abril de 2014 na cidade gaúcha localizada a 473 quilômetros de Porto Alegre. Na abertura da sessão, às 9h, as delegadas de Polícia Civil Caroline Machado e Cristiane Moura foram as primeiras testemunhas ouvidas.
Elas atuaram nas investigações e no inquérito que embasou a denúncia contra os acusados Leandro Boldrini (pai da vítima), Graciele Ugulini (madrasta), sua amiga Edelvania Wirganovicz e o irmão dela, Evandro Wirganovicz. Os depoimentos das agentes foram longos, com até quatro horas de duração, e detalharam aspectos como a tentativa de construção de álibis pelos suspeitos ao longo do processo.e as mudanças em seus comportamentos.
Outros pontos abordados pelas policiais foram a “certeza de impunidade” por parte dos autores do crime e o conturbado ambiente familiar, em que o menino de 11 anos era rejeitado, negligenciado e sofria tortura psicológica. Os depoimentos continuam nesta terça-feira, a partir das 9h. Ao longo do dia, outras 12 testemunhas devem prestar informações.
Defesa
A defesa do médico Leandro Boldrini, pai do garoto, questionou se houve alguma interceptação de conversa entre o médico e a companheira combinando o sumiço de Bernardo. A delegada Caroline negou. Ele também pediu que a policial falasse sobre o relacionamento entre pai e filho. “O pai era ausente e há vídeos gravados em uma celular, mostrando o pai provocando o menino”.
Sobre qual seria a motivação do pai para, em tese, planejar a morte do próprio filho, a delegada Cristiane ressaltou: “Os relatos da própria madrasta, que dizia que aquele núcleo familiar não comportava mais a presença de Bernardo. Tinha se formado uma nova família e que ele não poderia fazer parte.”
O advogado de Graciele perguntou sobre um suposto “conluio de advogados” logo que Leandro (pai), Graciele (madrasta) e Edelvânia (amiga) foram presos. A delegada Caroline mencionou que houve uma combinação entre as defesas para que Edelvânia isentasse Leandro de responsabilidade, por ser ele o provedor financeiro da família.
O defensor afirmou, ainda, que o inquérito policial traz o que ele classificou de “trama diabólica” e questionou a ausência de advogados para as então suspeitas nos primeiros momentos da investigação.
Evandro
Evandro, o outro réu, é acusado de ter aberto a cova rasa onde Bernardo foi enterrado. As delegadas-testemunhas não souberam precisar se ele faltou com a irmã no dia do crime ou da abertura do buraco, mas ressaltaram que o carro dele foi visto no local naqueles dias, fato que depois seria alvo de declarações contraditórias por parte do investigado.
As policiais também foram ouvidas sobre os interrogatórios de comerciantes que venderam pás e outras ferramentas para as acusadas na cidade de Frederico Westphalen, onde o corpo do menino foi encontrado. Também foi confirmada a venda do medicamento Midazolan (um dos sedativos que causaram a morte da vítima) à Edelvânia por meio de uma receita com carimbo do pai do garoto.
Para a delegada Cristiane, Leandro Boldrini foi o mentor do crime e teve comportamentos atípicos em relação ao filho na data do crime e nos dias seguintes, em que relatou à Polícia do desaparecimento. Ela mencionou como exemplo os gestos de suposto zelo pela criança, inexistentes até então, “o que causou estranheza” aos investigadores.
O crime
Bernardo Uglione Boldrini tinha 11 anos quando recebeu uma overdose de sedativos, no dia 4 abril de 2014, em Três Passos, onde vivia com o pai e a madrasta na área central da cidade. A família comunicou o desaparecimento e o corpo do estudante foi encontrado dez dias depois, em uma cova à beira de um riacho no município de Frederico Westphalen.
Leandro Boldrini, pai de Bernardo, é considerado pela Polícia Civil e Ministério Público como o mentor do crime. Ele teria recebido ajuda da mulher, da amiga dela (mediante pagamento) e do irmão desta última.
Situação
Órfão de mãe e vivendo com o pai e a madrasta, Bernardo se dizia carente de atenção. Ele chegou a procurar a Justiça para reclamar do tratamento que recebia do casal e pedir para morar com outra família.
No início de 2014, após o Ministério Público instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva, abandono e agressão (esta última não constatada), a Vara da Infância e Juventude de Três Passos autorizou que o garoto continuasse morando com o pai.
A avó materna chegou a se oferecer para assumir a guarda, em vão: o médico conseguiu uma “segunda chance”, com a promessa de que tentaria reatar os laços familiares com o filho.
(Marcello Campos)