Sábado, 27 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 7 de junho de 2018
Um recurso do pré-sal que não é chamariz para as multinacionais – o gás natural – poderia ser aliado importante para o Brasil reduzir a dependência do diesel e aumentar a participação de fontes renováveis em sua matriz energética no médio e longo prazo.
O gás natural está associado ao óleo nas áreas de exploração, dissolvido ou como uma capa sobre os reservatórios. O menos poluente entre os combustíveis fósseis, na Europa e nos Estados Unidos ele vem sendo cada vez mais usado como combustível de caminhões e de navios – neste último caso, como um caminho para que os países cumpram as metas de redução da emissão de gases poluentes pelo transporte marítimo.
No Brasil, o gás natural é usado para consumo doméstico, em setores industriais e nas usinas termelétricas. Ele também poderia ser aproveitado, entretanto, como combustível alternativo para os ônibus nas metrópoles do País e para dar flexibilidade à geração eólica e solar – ou seja, como “backup” para fornecer energia quando essas fontes, que são intermitentes, não estivessem produzindo -, ressaltam especialistas.
Até 2026, justamente por causa da exploração do pré-sal, a oferta de gás natural na malha integrada de gasodutos do País deve crescer quase 40%, de 43 milhões de metros cúbicos por dia para 59 milhões, conforme as estimativas feitas pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) com base nas reservas já conhecidas.
Apesar do aumento, a diversificação do uso do gás natural enfrenta obstáculos que vão desde a baixa demanda interna, que dificulta a criação de um mercado com preços que atraiam empresas para a exploração do combustível, à falta de infraestrutura de gasodutos para a distribuição. “O desenvolvimento do pré-sal nos conduz a rápidos e materiais excedentes de gás natural”, diz Edmilson Moutinho dos Santos, professor do IEE-USP (Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo).
“Trata-se de um gás difícil de monetizar, por questões logísticas, mas que representa uma oportunidade real de valorização no mercado doméstico, tornando nossa matriz energética muito mais sustentável e em linha com as demandas globais do século 21”, completa.
O especialista estuda o conceito de “corredores azuis”, rotas para veículos pesados, em expansão na Europa, que garantem autonomia para abastecimento de veículos movidos a GNC, gás natural veicular comprimido, ou GNL, gás liquefeito.
O uso do gás natural como combustível alternativo ganhou fôlego nos últimos dez anos, afirma Adriano Pires, sócio-diretor da CBIE (Câmara Brasileira de Infraestrutura), graças, em parte, à redução nos preços – reflexo, por sua vez, da exploração de gás de xisto (um tipo de gás “não convencional”, que não está atrelado às reservas de petróleo) nos EUA e da ampliação do uso da versão líquida do gás natural, o GNL, que não depende de gasoduto para ser transportado.
“O gás natural é visto hoje como um caminho de transição para matrizes energéticas mais limpas, enquanto não se desenvolvem, por exemplo, as baterias que vão armazenar a produção por energia eólica”, acrescenta.
O Brasil precisa ainda de mudanças regulatórias e de formulações de política energética voltadas para fomentar o mercado de gás. O chamado “PL do gás”, o projeto de lei 6407, de 2013, está parado no Congresso.