Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 16 de março de 2019
“Sem anúncios! Sem jogos! Sem truques!”. Essas palavras escritas à mão pelo cofundador do WhatsApp Brian Acton em um bilhete mantido em sua mesa pelo presidente e também criador da empresa, Jan Koum, davam o norte da estratégia de negócios do aplicativo desde sua criação.
Mas esses princípios podem abandonar a companhia junto com sua dupla de fundadores, avaliam especialistas, o que sinalizaria novos rumos para a empresa comprada pelo Facebook em 2014. Koum, presidente do WhatsApp, confirmou que está deixando a empresa após sua saída ser noticiada pelo jornal americano The Washington Post. Acton já havia feito o mesmo em novembro passado.
O Post afirmou que a decisão de Koum seria por causa de conflitos sobre como conduzir o negócio e o uso pelo Facebook de dados dos usuários do WhatsApp. A divergência interna em um dos aplicativos mais usados do mundo se dá em meio a uma pressão crescente de investidores para que Mark Zuckerberg, presidente do Facebook, prove que estava certo ao pagar US$ 22 bilhões (R$ 78 bilhões, em valores atuais) para comprá-lo.
O motivo da dúvida dos acionistas vai de encontro a uma pergunta frequente dos 1,5 bilhão de usuários do aplicativo: como o WhatsApp ganha dinheiro? Mas a pergunta deveria ser outra. Afinal, o WhatsApp ganha dinheiro? Para a surpresa de muitos, a resposta é não – na verdade, ele dá prejuízo. “O WhatsApp não tem hoje muita receita, se é que tem alguma”, disse a analista Debra Aho Williamson.
“A empresa tem agido lentamente de propósito na criação de um negócio com publicidade, e acredito que continuará a avançar bem devagar em fontes de receita para ganhar dinheiro.”
Obstáculo ao crescimento
O aplicativo tornou-se um sucesso ao ser uma alternativa aos pacotes caros e limitados de mensagens de texto dos planos de telefonia. Hoje, são enviadas 55 bilhões de mensagens diariamente por meio dele, de acordo com os dados mais recentes da companhia. Uma das razões pelas quais, mesmo sendo tão popular, o WhatsApp opera no vermelho é o fato de ser totalmente gratuito.
O aplicativo já foi pago no passado. Dependendo do mercado e do tipo de celular, cobrava US$ 1 para ser baixado ou uma anuidade no mesmo valor após o primeiro ano grátis. Em 2016, a empresa deu fim a qualquer tipo de cobrança.
“Isso era um obstáculo para o aumento do número de usuários, porque era preciso pagar com cartão de crédito, e muita gente não tem”, explicou Leandro Guissoni, professor de marketing da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
“Receita não era uma preocupação de Zuckerberg, senão ele não teria comprado uma empresa que havia dado um prejuízo de US$ 130 milhões no ano anterior. Ele disse que esperaria o primeiro bilhão de usuários para pensar em como tornar o aplicativo rentável.”
O Facebook fatura principalmente com publicidade, exibida de forma personalizada para cada usuário de acordo com seus gostos e comportamento. Mas essa estratégia não poderia ser replicada no WhatsApp, até agora pelo menos.
Não ter publicidade, um dos pilares do aplicativo
Não ter publicidade foi um dos pilares do serviço desde que surgiu em 2009. Seus fundadores desenvolveram o programa após sairem do Yahoo por discordarem do uso de anúncios pela empresa. “Koum tem um histórico de não gostar de propaganda personalizada”, explicou Williamson.
A empresa disse, ao dizer em seu blog por que não exibe anúncios, que “ninguém acorda um dia ansioso por ver mais propaganda, ninguém vai dormir pensando nos anúncios que verá no dia seguinte”.