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Por Redação O Sul | 12 de fevereiro de 2021
Yoshiro Mori, presidente do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio, renunciou nesta sexta-feira após repercussão negativa a respeito de suas declarações sexistas e depreciativas às mulheres. O seu substituto não foi anunciado. A decisão foi comunicada durante a reunião de membros da diretoria executiva e conselheiros do comitê.
No dia 3 de fevereiro, em uma reunião sobre a competição, ele disse que “as mulheres falam demais, são muito competitivas e que atrapalham o andamento das reuniões”. Por isso, segundo ele, não seria interessante ter mais mulheres em cargos de chefia. Disse, ainda: “As mulheres que trabalham comigo sabem o seu lugar”.
Mori chegou a se desculpar pelas falas machistas no dia seguinte ao episódio mas garantiu que ficaria no cargo. Segundo a agência Reuters, no entanto, quando perguntado se ele realmente achava que mulheres falavam demais, Mori falou: “Eu não ouço muito as mulheres ultimamente, então eu não sei”.
O conselho do comitê conta atualmente com 24 membros, cinco mulheres. A polêmica sobre o ex-primeiro-ministro japonês, propenso a gafes, é mais um problema que os organizadores e o Comitê Olímpico Internacional (COI) enfrentam enquanto tentam realizar os Jogos, adiados em 2020 por causa da pandemia do novo coronavírus. A Olimpíada está prevista para 23 de julho.
Pressões
O jornal “Japan Times” publicou que as empresas patrocinadoras dos Jogos de Tóquio chegaram a se reunir com o comitê organizador para deixar claro o descontentamento com a situação e os riscos da parceria.
Patrocinadores privados representam mais da metade dos investimentos no evento e são fundamentais diante do aumento de gastos pelo adiamento dos Jogos e pelo investimento nas medidas de contenção ao novo coronavírus.
Tenista número 3 do mundo, a japonesa Naomi Osaka chegou a comentar o assunto, ao anunciar uma pequena lesão que a fez desistir da semifinal de uma WTA 500 em Melbourne, preparatório para o Australian Open.
“Se eu acho que ele deveria renunciar? Eu acho que alguém que faz comentários como esse… Eles precisam ter mais conhecimento sobre o que estão falando, então eu acho que foi uma declaração muito ignorante”, disse a tenista, uma das mais influentes do mundo.
Yane Marques, presidente da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e secretária-executiva de esportes do Recife, disse que não acredita que nessa altura do campeonato, “no ano de 2021, ainda tenha que se comentar comportamentos machistas”. Para a ex-atleta do pentatlo, Mori foi infeliz, deselegante e inoportuno.
“Nunca coube, e agora muito menos. Estamos ocupando os espaços que nos cabe por mérito. Aos poucos, estamos onde merecemos estar. Sua fala é preconceituosa, triste e injusta. Essas pessoas tem cada vez menos espaço na sociedade”, disse Yane.
Ela acrescentou: “Já mostramos que temos competência e merecemos reconhecimento. Limitações, todos tem. Nós mulheres, cada uma em particular, temos limitações também. Não somos super heroínas e não queremos ser mais do que ninguém. Queremos o nosso espaço”.
Agradecimento
No Japão, as pressões eram enormes. Cerca de 60% da população do país queria a saída do dirigente. Apenas 7% dos entrevistados acreditavam que Mori estava apto a chefiar o comitê.
O comitê organizador revelou que, em cinco dias, quase 400 voluntários desistiram de trabalhar nos Jogos por causa do episódio. Também foram recebidos cerca 350 ligações e 4.200 e-mails sobre o caso.
Políticas do Partido Democrático Constitucional no Japão se manifestaram em sessão na Câmara de Representantes contra Mori.
A brasileira Aline Silva, vice-campeã mundial de wrestling, já classificada para os Jogos, lamentou: “Como atleta, perco o brilho nos olhos por Olimpíadas cada vez que alguma situação como essa é escancarada e encarada com naturalidade. Esse brilho poderia ser facilmente restaurado se o Comite Olímpico não apoiasse um sexista”.
Para Carol Gataz, umas das melhores jogadoras de vôlei do Brasil e que briga por uma vaga na seleção de José Roberto Guimarães, a renúncia de Mori foi a melhor saída para o dirigente e para Tóquio-2020. A central, capitã do time do Minas, diz que não se trata de feminismo e sim, de respeito: “A renúncia é bem vinda e que assuma alguém mais adequado ao cargo para os dias atuais”.
A esgrimista Bia Bulcão, bronze nos Jogos Pan-americanos de Lima (Peru) em 2019, e que busca vaga para Tóquio no Pré-Olímpico de esgrima, em abril, no Panamá, diz que Mori passa uma imagem negativa do Japão e que ele, com mais de 80 anos, poderia até estar acostumado a uma realidade diferente, mas que esta não existe mais.