Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 8 de agosto de 2021
Nosso corpo é uma pilha de nervos.
Certamente você já ouviu a frase acima (e pode até ter se identificado com ela num dia mais estressante).
E essa afirmação faz sentido até do ponto vista literal: afinal, os nervos são estruturas periféricas do sistema nervoso que fazem a comunicação entre o corpo e o cérebro.
Eles também permitem a gente se movimentar e ter sensações como dor, calor ou cócegas.
E, entre os muitos nervos que se espalham da cabeça aos pés, um deles certamente ganha destaque: o nervo vago percorre grande parte de nosso corpo e está diretamente relacionado às emoções.
O que é
Seu nome vem do latim nervus vagus.
“Em sua origem, vagus significa vagar e realmente descreve a forma como o nervo e suas ramificações vagueiam pelo corpo”, detalhou a psicóloga Kimberley Wilson durante o programa Made of Stronger Stuff, transmitido na BBC Radio 4, no Reino Unido.
Essa estrutura é dividida em duas: uma parte está no lado direito do corpo e interage com fígado e pâncreas. Do lado esquerdo, a outra ramificação chega a coração, baço, estômago…
Ela ainda passa, de ambos os lados, por pulmões, rins e os intestinos delgado e grosso.
Esse nervo nasce no tronco cerebral, uma região que está localizada mais ou menos atrás das orelhas. A partir dali, desce por cada lado do pescoço, atravessa o tórax e chega até o abdômen.
Ou seja: ele conecta o tronco cerebral a quase todos os órgãos essenciais.
A título de comparação, é como se ele fosse uma grande rodovia ou um um cabo transatlântico com milhares e milhares de fibras de telefone e internet.
“Cerca de 80% desses cabos são sensores, o que significa que o nervo vago relata ao cérebro o que está acontecendo em todos os órgãos”, diz o neurocirurgião Kevin Tracey, presidente do Instituto Feinstein de Pesquisa Médica, nos Estados Unidos, e um dos principais estudiosos desse campo da medicina.
Em termos científicos, o nervo vago é um dos principais componentes do sistema nervoso parassimpático, que controla as ações involuntárias do corpo.
“Nós temos o sistema nervoso simpático, que nos deixa preparados para a ação, e o sistema nervoso parassimpático, que funciona como um interruptor de desligamento desse primeiro mecanismo voluntário”, explicou Wilson.
Portanto, se o nervo vago é essa via de comunicação que transmite sinais do corpo para o cérebro, isso pode ter um impacto direto na mente, nos pensamentos e talvez até em nos sentimentos, apontam os especialistas.
Especula-se, por exemplo, qual seria o papel dele no aparecimento de quadros de estresse, ansiedade e depressão.
Como estimular
Existem tratamentos médicos que manipulam o nervo vago por razões terapêuticas. Em casos específicos, os especialistas usam um aparelho parecido a um marca-passo, que dá pequenos choques elétricos.
Atualmente, esse tipo de dispositivo tem um uso limitado, especialmente para quadros de depressão e epilepsia que não respondem a nenhum outro tratamento.
Mas a eficácia desta alternativa ainda varia muito dependendo do paciente.
Também existem pesquisas sobre a estimulação do nervo vago que podem ser aplicadas a tratamentos para doenças que causam inflamação, como a artrite reumatóide, que afeta as articulações.
Mas, enquanto a medicina avança e descobre novos recursos terapêuticos, será que existe uma maneira um pouco mais fácil de estimular o nervo vago?
Algumas das sugestões para mexer com essa parte do sistema nervoso incluem cantar e repetir mantras.
Um estudo de 2013 com participantes de um coral mostrou que atividades musicais ajudam, por exemplo, a manter o compasso dos batimentos cardíacos. E essa regulação acontece graças ao nervo vago.
No meio de tantas novidades, é curioso pensar como coisas básicas, caso de comer e cantar, e outras tão modernas e avançadas, como cirurgias e marca-passos, podem atuar num nervo tão importante — e, quem sabe, até facilitar a comunicação do cérebro pelo bem da saúde do corpo (e da mente).