Sexta-feira, 09 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 9 de maio de 2025
O escândalo do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), com desvios em pelo menos 4 milhões de aposentadorias, é um dos assuntos mais quentes do momento. Ainda assim, a tendência é de que o tema perca força até as eleições de 2026 e não seja um fator decisivo na disputa presidencial.
O primeiro motivo é que, segundo a Polícia Federal, as irregularidades tiveram início em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro. Este dado dificulta a mobilização pela criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), pois expõe divisões na oposição. Uma parcela dos oposicionistas segue articulando para coletar assinaturas, apostando na instalação de uma CPI mista, com deputados e senadores. Porém, outra corrente do Congresso teme que a comissão termine dominada pelo governo.
Esse cenário remete ao que foi visto na CPMI do 8 de Janeiro, iniciada sob liderança opositora e encerrada com o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No contexto do INSS, o foco das apurações poderia se voltar para o ex-secretário da Previdência
Rogério Marinho, por exemplo. Marinho, inclusive, já reagiu publicamente, argumentando que as distorções decorrem de práticas históricas e vinham sendo combatidas. Ainda assim, outros integrantes do antigo governo também poderiam ser questionados.
Assim, mesmo que uma CPI venha a ser instalada, dificilmente terá margem para desestabilizar o governo federal – a menos, é claro, que a Polícia Federal traga à tona novos casos de corrupção ocorridos mais recentemente.
O segundo fator atenuante para o governo é a possibilidade concreta de ressarcir os danos antes das eleições. As atuais regras fiscais não representam um impeditivo nesse sentido. Caso não consiga remanejar recursos do Orçamento, que já está apertado, o governo pode considerar a abertura de crédito extraordinário, proposta já ventilada pelo PSOL. É difícil imaginar um cenário em que o governo não consiga devolver os recursos.
Com o passar do tempo, a crise do INSS tende a se diluir em meio a outros temas que capturam a atenção do eleitorado. Em última análise, o desempenho econômico permanece como variável primordial para 2026 – fator que, por ora, mantém Lula na disputa. (Silvio Cascione – Mestre em Ciência Política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group)