Sexta-feira, 02 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 1 de maio de 2022
Ao caminhar pelas chamadas Colônias Unidas, no sul do Paraguai, percebe-se rapidamente que algo está mudando. Em alguns terrenos vazios, é possível ver contêineres com os pertences dos recém-chegados. Em outros, as novas casas já estão sendo construídas.
É a evidência mais clara da nova onda de imigrantes europeus que esta região está recebendo. A área localizada às margens do rio Paraná abriga cerca de 45 mil pessoas divididas em três municípios: Honenau, Obligado e Bella Vista.
Os moradores dizem que a onda migratória começou há cerca de três anos. No entanto, foi nos últimos meses que houve um salto perceptível no movimento.
A maioria dos que chegam vem da Alemanha, mas também há austríacos e russos.
Segundo dados fornecidos pela Direção Geral de Migração do Paraguai, entre junho de 2021 e fevereiro de 2022, foram emitidas 1.324 permissões de residência para cidadãos alemães.
Eles representam a segunda nacionalidade com maior número de permissões de residência emitida nesse período, atrás apenas dos brasileiros.
Mas outras fontes nos disseram que de junho a fevereiro deste ano, milhares de alemães desembarcaram no Paraguai para se estabelecer no país. E nem todos eles passaram pelos registros de imigração.
“Willkommen”
Embora também tenham se estabelecido em outras partes do país, boa parte dos novos imigrantes opta por se estabelecer nas Colônias Unidas. E não é difícil entender o porquê.
As Colônias Unidas foram fundadas por colonos de origem alemã quando Wilhem (Guillermo) Closs, um descendente de alemães nascido no Brasil, e um punhado de outras famílias alemãs estabeleceram a primeira delas, Hohenau, em 1900.
Desde então, tanto a cultura quanto a língua alemã permaneceram presentes: existem escolas alemãs, igrejas alemãs luteranas e evangélicas, e muitos dos moradores falam alemão.
Na entrada da cidade de Obligado há uma placa que diz “Fuhl dich wie zu Hause” (Sinta-se em casa). Em Bella Vista, a tradicional mensagem de boas-vindas em espanhol é acompanhada por um “Willkommen” (Bem-vindo).
“Temos um grande número de descendentes de europeus e acho que essa nova onda de imigrantes é porque eles se sentem à vontade aqui, as pessoas os tratam bem, de maneira amigável, e eles podem falar alemão confortavelmente, eles se sentem em casa”, diz Enrique Hahn, prefeito de Hohenau e também descendente de alemães.
Antes das Colônias Unidas, já existiam outras colônias alemãs no Paraguai como San Bernardino e Nueva Germania, fundadas pela irmã do filósofo Friedrich Nietzsche, Elisabeth Nietzsche, e seu marido, Bernhard Förster, na tentativa de criar uma comunidade de raça ariana fora da Alemanha.
Os primeiros a chegar buscavam novas terras para trabalhar e oportunidades em um país que tentava se recuperar da devastadora Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) com uma política de imigração aberta.
Contra a vacinação
Muitos dos alemães que chegaram ao Paraguai nos últimos meses acreditam que em seu país não há liberdade para tomar as próprias decisões e referem-se, em particular, à campanha de vacinação.
No momento, a vacinação não é obrigatória na Alemanha — embora o tema esteja sendo debatido —, mas os não vacinados têm acesso restrito a restaurantes, lojas e estabelecimentos de lazer e arte.
Desde o início da pandemia, inúmeros protestos contra as restrições e contra a vacinação têm sido realizados nas ruas alemãs, nos quais a palavra “Freiheit” (liberdade) e as teorias da conspiração têm sido uma constante.
Imigrantes fugindo da imigração
No entanto, não é apenas a pandemia que impulsionou essa nova onda de imigração alemã para o Paraguai.
Praticamente todos os alemães com quem conversamos citaram a chegada de imigrantes muçulmanos na Alemanha como outra razão pela qual deixaram seu país.
Desde 2015, mais de um milhão de imigrantes e refugiados — a maioria fugindo de conflitos no Afeganistão, Iraque e Síria — chegaram à Alemanha graças à política de portas abertas da ex-chanceler Angela Merkel.
Outro aspecto são alguns ataques de imigrantes, que alimentaram a retórica anti-imigrante e xenófoba na Alemanha, como a série de agressões sexuais na véspera de Ano Novo de 2016 na cidade de Colônia, atribuídas principalmente a imigrantes de origem árabe ou norte-africana.