Sábado, 03 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 30 de dezembro de 2023
Dezembro chegou. É neste período que muitas pessoas fazem uma espécie de “balanço geral” dos últimos 12 meses e percebem que praticamente metade dos planos e objetivos traçados não foram cumpridos. O fim de mais um ciclo, ao lado das tradicionais festas de fim de ano, pode desencadear sentimentos de ansiedade, melancolia e até quadros de depressão e insônia em pessoas mais sensíveis. Isso tem até um nome: síndrome de fim de ano.
“A síndrome de fim de ano, ou a dezembrite, é um diagnóstico popular que não é formalmente codificado pela psiquiatria nem pela psicologia, mas é uma forma simples de nomearmos um sofrimento recorrente, que afeta várias famílias nesse período do ano”, explica o psicanalista Christian Dunker, que também é professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a psicóloga Julia Rigueiro Silva, do Serviço de Psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, a síndrome de fim de ano pode afetar qualquer pessoa e é uma forma de nomear um estado emocional, seja por fazer um balanço do ano que passou, seja por trazer lembranças, frustrações e lutos não elaborados.
Os sentimentos associados à síndrome de fim de ano são muito semelhantes aos de pessoas que vivem no hemisfério norte e relatam ter a “depressão de inverno”. Nesse caso, esse sentimento é chamado de transtorno afetivo sazonal, pois está relacionado à mudança de estação. “Quando o inverno começa a se aproximar, muitas pessoas ficam mais inquietas, com medo do que vai acontecer, temendo o estado de isolamento e as dificuldades que vêm com o frio. A síndrome de final de ano é uma reação parecida. Os sentimentos de ansiedade, de tristeza e melancolia podem aparecer”, diz Dunker.
O que desencadeia o problema?
Há várias razões que ajudam a explicar por que as pessoas ficam mais melancólicas nesse período. Primeiro, é um momento de transição, marcando o encerramento de um ciclo, o que provoca angústia e um estado genérico de temor pelas mudanças que virão com o início do novo ano. “Esta é uma data em que muitas pessoas tomam decisões. Pode envolver mudança de emprego, separação de casal, mudança de casa, de cidade. É um conjunto de circunstâncias”, explica o psicanalista.
O segundo ponto é que, especialmente no Natal, as pessoas geralmente participam de celebrações que envolvem reuniões familiares, com amigos e colegas de trabalho. Este período é compreendido por muitos como um momento de renovação, reencontro e festividades, mas pode trazer à tona possíveis conflitos dentro da própria família que podem não estar bem resolvidos.
“Frente à pressão social para que essa seja uma época de comemorações, de alegrias e de encontros, às vezes as pessoas precisam lidar com situações frustrantes e mal resolvidas, gerando maior sentimento de angústia”, diz a psicóloga do Einstein. Além disso, o luto também é um fator que pode se tornar um gatilho: “neste período, os sentimentos e as recordações ficam mais aflorados. As reuniões em família podem ativar o sentimento relacionado à perda e à memória afetiva de pessoas que já se foram. Acaba despertando a sensação de melancolia e de sofrimento”, explica.
Um terceiro motivo para desencadear a síndrome de fim de ano é que, após o Natal, caracterizado pela reunião familiar, segue-se a celebração do Ano Novo, que é a festa dos desejos e do futuro do indivíduo: “em geral, as pessoas fazem balanços muito curtos, muito rápidos, que não são verdadeiras meditações pessoais. Olham para o ano que passou como se fossem uma empresa”, explica Dunker.
“São esses balanços que frequentemente levam à sensação de decepção, de frustração. Isso acaba tornando a experiência um encontro com o vazio, com a perda, com a falta, com o que a pessoa ainda não alcançou. Essa é uma fonte importante de sofrimento”, detalha o psicanalista.
Outros fatores que influenciam no desenvolvimento da síndrome incluem problemas financeiros, acúmulo de tarefas, sensação de vazio, sentimento de fracasso, saudade das pessoas que já partiram, isolamento social, alta demanda no trabalho, entre outros. Isso também engloba a pressão em torno das expectativas criadas para o ano que passou e para o novo ano que está prestes a começar.