Domingo, 12 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de outubro de 2025
O Dia das Crianças é comemorado no Brasil em 12 de outubro, e, diferente de outras datas comemorativas, não tem uma origem religiosa nem familiar, e, sim, uma combinação de iniciativas políticas, educacionais e comerciais.
A ideia de ter uma data nacional dedicada à infância surgiu ainda nos anos 1920, mas só se consolidou mesmo a partir dos anos 1960, quando passou a ser usada também como uma estratégia para movimentar o comércio.
Segundo a professora Magda Sarat, da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD/MS), o início de tudo foi em 1922, ano do 1º Congresso Brasileiro da Criança, realizado no Rio de Janeiro.
“Foi ali que se começou a pensar em políticas de proteção à infância. A ideia era muito mais assistencialista: cuidar, atender, garantir direitos mínimos”, explica Sarat.
A proposta da data partiu do então deputado federal Galdino do Valle Filho, que sugeriu a criação de um dia nacional voltado às crianças.
O projeto foi aprovado e virou lei em 1924, no governo de Arthur Bernardes – mas, por muito tempo, a data passou quase despercebida.
Durante séculos, a infância foi negligenciada. “Historicamente, a criança não existia como sujeito social”, explica a professora Sarat. A mudança começou no século 18, com transformações sociais e políticas na Europa.
Entre o fim do século 19 e o início do 20, investir na infância passou a ser visto como investimento no futuro da nação.
Mas Sarat faz uma ressalva: “As crianças são vistas como o futuro, mas, na verdade, elas são o presente. São indivíduos com direitos, que estão aqui, agora.”
Data
A escolha do 12 de outubro tem relação com outro evento importante para a história oficial: o descobrimento da América, celebrado nessa mesma data.
Para alguns, essa ligação simbólica com a ideia de “novo mundo” fez sentido: a criança também representa esse novo, o que está por vir.
Mas o que realmente fez a data “pegar” foi o apelo comercial.
Nos anos 1950, a empresa Estrela, em parceria com a Johnson & Johnson, lançou uma campanha publicitária para alavancar as vendas de brinquedos.
O sucesso foi tanto que o 12 de outubro se consolidou como o Dia das Crianças no calendário comercial, nos moldes do que aconteceu com o Dia das Mães e o Dia dos Pais.
Presentes e desigualdades
Presentear virou tradição – e também uma pressão. “As famílias se sentem cobradas a dar algo, mesmo que simbólico”, diz Sarat. Segundo ela, não é preciso comprar o brinquedo mais caro: o importante é considerar os interesses da criança.
Ela chama atenção ainda para as desigualdades de gênero nos brinquedos. “Ainda hoje, o que se oferece para meninas está ligado ao espaço doméstico: boneca, panelinha, vassoura. Já para os meninos, são brinquedos ligados ao espaço público, como bola, carrinho, luta, aventura”, analisa.
Apesar das contradições, o Brasil avançou bastante na proteção da infância. “Hoje, a criança é reconhecida como cidadã, com direitos garantidos em lei”, lembra Sarat.
Entre os principais marcos estão a Declaração dos Direitos da Criança (1989), o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e a inclusão da educação infantil na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996).
“A criança passou a ter um lugar. Ela é um sujeito, e não apenas alguém em formação”, conclui.