Sexta-feira, 07 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de agosto de 2018
Em termos de propostas políticas, Jair Bolsonaro (PSL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão em lados opostos na disputa eleitoral. Mas há eleitores que pretendem votar em Bolsonaro se Lula não concorrer. Segundo levantamento da BBC, o perfil desse eleitor é o de pessoas de classe média baixa que sentiram melhorias no governo Lula, mas que não têm compromisso de lealdade com o PT. Não são só conservadores, mas insatisfeitos, que querem mudança e que se preocupam com a violência e o desemprego.
Um defende facilitar o porte de armas para todos, diminuir a maioridade penal e priorizar relações diplomáticas do Brasil com Israel, Estados Unidos e Europa. O outro quer reduzir a presença de armamentos em todo o País, fazer com que a pena de prisão só valha para crimes graves e propõe retomar o foco da política externa na América do Sul e África.
Entre os eleitores do petista entrevistados pela última pesquisa CNT/MDA,6,2% dizem que migrariam o voto para o deputado caso a candidatura do ex-presidente seja cassada com base na Lei da Ficha Limpa.
Na última pesquisa CNT/MDA, divulgada no último dia 22, os entrevistados que tinham Lula como primeira opção foram questionados sobre em quem votariam caso o ex-presidente seja impedido de concorrer, sendo substituído pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), atual vice na chapa.
Nesse cenário, metade dos eleitores de Lula entrevistados se disseram indecisos ou inclinados a votar em branco/nulo. Da outra metade, 17,3% votariam em Haddad, 11,9% iriam para Marina Silva (Rede), 9,6% apostariam em Ciro Gomes (PDT) e 6,2% responderam que, se o líder petista não concorresse, migrariam o voto para Bolsonaro. Na prática, o deputado do PSL ganharia 2,3 pontos percentuais.
O que explica essa migração de votos de um candidato visto como de esquerda para outro de direita?
Voto não-ideológico e preocupação com a violência nas ruas
Cientistas políticos afirmam que há uma lógica por trás da migração de eleitores de Lula para Bolsonaro.
Segundo o professor da UnB (Universidade de Brasília) Lucio Rennó, o perfil desse eleitor é o de pessoas de classe média baixa que sentiram melhorias no governo Lula, mas que não são de esquerda, nem têm compromisso de lealdade com o PT.
Ao mesmo tempo em que enxerga no ex-presidente a lembrança de tempos melhores, essa parcela do eleitorado se identifica com o discurso de Bolsonaro em prol da “ordem” e da “tolerância zero” com o crime.
“É uma parcela do eleitorado que vive nas periferias e que está descontente com a classe política por conta dos escândalos de corrupção e dos altos níveis de violência que afetam, principalmente, as áreas periféricas”, diz Rennó.
“Quem tem conseguido dialogar diretamente com esse eleitorado é Jair Bolsonaro. Ele fala a língua desse eleitorado e faz isso com naturalidade.”
O perfil de quem migraria de Lula para o Bolsonaro é diferente daquele dos eleitores cativos do deputado que, segundo as pesquisas de opinião, são sobretudo pessoas com ensino superior e renda alta.
A pesquisadora em ciência política Carolina de Paula, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), reforça que segurança e emprego serão alguns dos temas centrais nas eleições, e que Bolsonaro pode captar eleitores de Lula mais vulneráveis aos efeitos do aumento da criminalidade.
“O eleitorado do Bolsonaro precisa ser pensado de forma mais heterogênea. Não é só um eleitorado conservador. É uma pessoa que está insatisfeita, que quer mudança e que se preocupa com a violência e o desemprego”, diz.
“É uma pessoa que sente que o Brasil piorou, está descrente com a política e tem saudade do tempo de Lula. Essa pessoa votaria no ex-presidente na esperança de voltar a este tempo. E migraria o voto para Bolsonaro também com essa expectativa de mudança.”