Quinta-feira, 27 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de junho de 2023
Lula e a ministra Daniela Carneiro teriam chorado durante reunião em que sua situação política foi discutida
Foto: Divulgação Lula/Ricardo StuckertEm meio às pressões por trocas ministeriais no governo Lula, o grupo político da ministra do Turismo Daniela Carneiro, que balança no cargo, ameaça avançar sobre feudos do PT fluminense, em especial a gestão de hospitais federais no Rio de Janeiro.
Marido de Daniela, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho (Republicanos), negocia espaços ligados à Saúde, área também cobiçada pelo Centrão, de olho em maior capilaridade no estado. Lideranças petistas admitem nos bastidores a possibilidade de perder cargos antes reservados ao partido.
Alvo de interesse político por seu poder orçamentário e volume de atendimentos, a rede de hospitais federais do Rio está sob comando do PT desde abril, quando a ministra da Saúde empossou os novos diretores das seis unidades. O orçamento total dos hospitais para este ano beira os R$ 840 milhões, segundo o Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), órgão responsável pela gestão da rede, que realizou cerca de 680 mil consultas médicas e ambulatoriais no ano passado. Dois diretores apadrinhados por petistas já foram exonerados — Abel Martinez, do Hospital dos Servidores, e Gustavo Magalhães, dos Hospital Cardoso Fontes —, abrindo flancos para novas indicações políticas.
Na avaliação de interlocutores do Palácio do Planalto e do PT fluminense, o apoio de Waguinho a Lula no segundo turno de 2022 torna “natural” uma reacomodação de seu grupo político com a iminente perda da pasta do Turismo. A substituição de Daniela vem sendo exigida pela bancada do União Brasil na Câmara, a pretexto de melhorar a relação com o governo. Embora filiada ao União, a ministra é tratada como nome da “cota pessoal” de Lula.
Waguinho afirmou que não haverá mágoa nem rancor por parte de sua família com o presidente Lula diante da eventual demissão de sua esposa.
O prefeito de Belford Roxo ainda acrescentou que Lula e Daniela choraram durante reunião na última terça (13), em que sua situação política foi discutida. A ministra foi mantida momentaneamente no cargo, mas há pressão para que ela seja demitida nos próximos dias.
“[Lula se emocionou] No momento em que disse ‘Daniela, você é minha cota, você é minha ministra, não quero que você saia’. Quando ele falou essas palavras os dois choraram. [Mas] Há esse impasse partidário, e vamos aguardar, foi o que ele disse”, afirmou.
“E a Daniela disse: ‘Presidente, eu jamais vou ser empecilho para o senhor. Se o senhor precisar de mim, estou aqui para fazer o que o senhor pedir. Se for para sair, vou lhe agradecer, e o senhor me dá a missão que o senhor quiser, e eu vou cumprir essa missão’. Tem tempo ruim não, a gente é de guerra”, completou.
Waguinho participou da reunião na véspera, assim como o ministro da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), Alexandre Padilha.
“A política leva a isso [a trocas]. As questões de negociação política que tem que ser feitas, é normal isso. Sem mágoa, sem rancor. A gente, com o presidente Lula, é diferente, tem relação de amizade”, disse o prefeito.
Na quarta-feira, Waguinho se reuniu com a ministra Nísia Trindade (Saúde). Apesar de o prefeito ter afirmado que a audiência buscava debater o envio de recursos federais a Belford Roxo e a revisão dos tetos orçamentários da Saúde no município, o encontro foi visto como um primeiro aceno em busca de cargos.
Segundo aliados, Waguinho também negocia emplacar nomes nas superintendências de autarquias como o Ibama e o Dnit no Rio, ainda vagas. Um dirigente do PT, contudo, avalia como inevitável o interesse do prefeito de Belford Roxo e de outras lideranças políticas nos hospitais federais, e avalia que o partido cometeu um “erro de avaliação” ao querer concentrar o comando desses postos com sua própria bancada.