Sábado, 31 de maio de 2025
Por Guto Lopes | 31 de maio de 2025
O que está em jogo não é uma disputa ideológica, mas a urgência de atender uma população que já enfrenta filas intermináveis e falta de leitos
Foto: FreepikEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Em um cenário de colapso iminente nas emergências hospitalares do Rio Grande do Sul, a proposta do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), liderada por seu diretor-presidente Gilberto Barichello, surge não como uma manobra política, mas como uma resposta técnica e responsável a uma crise que ameaça a vida de milhares de gaúchos. Ao sugerir o uso de cerca de R$ 700 milhões do Fundo Rio Grande (Funrigs) para o custeio emergencial da saúde, o GHC está cumprindo com sua missão pública: salvar vidas.
O que está em jogo aqui não é uma disputa ideológica, mas a urgência de atender uma população que já enfrenta filas intermináveis, falta de leitos e superlotação em unidades de pronto atendimento. A realidade nas portas dos hospitais não espera por projetos de infraestrutura a longo prazo. A dor, a espera e a morte são cotidianas para quem depende do SUS. Nessa conjuntura, usar os recursos do Funrigs para reforçar o atendimento hospitalar não é um desvio de finalidade – é uma adaptação legítima e necessária frente à emergência social.
É verdade que o Funrigs foi concebido com foco em investimentos estruturantes. Mas também é verdade que ele já foi utilizado em situações excepcionais, como no apoio à agricultura familiar e ao próprio custeio da saúde municipal. A regra orçamentária precisa estar a serviço da vida – e não o contrário. O momento exige sensibilidade e coragem política. Insistir em planos de rodovias ou obras de infraestrutura enquanto a população agoniza nos corredores dos hospitais é, sim, uma forma de negligência.
Os prefeitos, que estão na linha de frente da saúde pública, apoiam majoritariamente a iniciativa do GHC. Isso não é coincidência. Eles conhecem de perto o drama dos municípios, sabem onde o calo aperta e percebem que há dinheiro disponível para um reforço imediato no sistema – falta apenas vontade política para liberar os recursos.
É importante lembrar que salvar vidas hoje também é investimento. Um sistema de saúde pública funcionando reduz internações graves, evita mortes evitáveis e gera impactos positivos em produtividade, economia e bem-estar social. Diferente do que alega o governo estadual, essa não é uma proposta populista, é uma política pública de responsabilidade e humanidade.
Em vez de descartar a ideia com argumentos burocráticos, o governo Leite deveria ver nela uma oportunidade de mostrar sensibilidade e compromisso com o povo. O Plano Rio Grande pode e deve ser revisto para incorporar ações emergenciais, como essa. Nenhum projeto de desenvolvimento é mais importante do que a vida das pessoas.
Ao lado dos prefeitos e das instituições hospitalares, o GHC está indicando o único caminho moralmente aceitável diante da crise: priorizar quem mais precisa. Que o governo ouça esse chamado antes que a omissão custe ainda mais caro à população.
* Guto Lopes, jornalista da Rede Pampa de Comunicação
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.