Quarta-feira, 01 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de março de 2020
Depois de o grupo Hachette decidir abandonar os planos de publicar a autobiografia de Woody Allen e devolver todos os direitos ao autor, uma nova editora, chamada Arcade Publishing, lançou a obra ontem, sem fazer muito barulho.
Intitulado “Apropos of nothing”, o livro reúne memórias de Allen que investigam sua infância em Nova York, seu caso de amor com Diane Keaton e as acusações de abuso sexual contra sua filha de 7 anos, Dylan Farrow. Ele também aborda o conturbado relacionamento com Mia Farrow e é dedicado a Soon-Yi Previn, sua mulher e filha adotiva da atriz.
“O título é um relato pessoal sincero e abrangente de Woody Allen e de sua vida desde a infância no Brooklyn até sua aclamada carreira em cinema, teatro, televisão e stand-up, além de explorar seus relacionamentos com a família e os amigos”, diz uma nota oficial da Arcade Publishing, sediada em Nova York.
O nascimento de “Apropos of nothing” chega pouco mais de duas semanas após a francesa Hachette recuar do plano de lançar a autobiografia no dia 7 do próximo mês. A empresa foi pressionada, inclusive por seus funcionários, que fizeram uma paralisação para protestar contra os planos do grupo editorial. Segundo a nota que oficializou a desistência, os executivos da Hachette teriam discutido o assunto com sua equipe e chegado à conclusão de que avançar com a publicação não seria viável.
“A decisão de cancelar o livro de Allen foi difícil”, disse uma porta-voz da editora no comunicado. “Levamos muito a sério nosso relacionamento com os autores e não temos o hábito de cancelar livros. Nós publicamos e continuaremos a publicar muitos livros desafiadores. Como editores, garantimos todos os dias em nosso trabalho que diferentes vozes e pontos de vista conflitantes possam ser ouvidos”, continuava a nota.
Ronan Farrow, filho de Allen, cujo livro “Operação abafa” foi publicado pela Hachette nos EUA, também criticou explicitamente a editora. “Isto demonstra a falta de ética e de compaixão pelas vítimas de agressões sexuais”, disse Farrow, que rompeu seu contrato com a empresa.
Mas em meio a tanta polêmica em torno do lançamento de “Apropos of nothing”, a verdade é que poucas pessoas já tiveram a oportunidade de ler a autobiografia do cineasta. Uma delas é Bret Stephens, jornalista que não se furtou de tecer elogios à obra em artigo publicado no “The New York Times”.
“Allen escreve bem. Há humor em quase todas as páginas. Ele tem sido uma figura de suma relevância no setor das artes americanas há 60 anos, então sua gama de personagens é grande. O pano de fundo da biografia é povoado por artistas como Ed Sullivan, Dick Cavett, Johnny Carson, Pauline Kael, Scarlett Johansson e Timothée Chalamet; e o primeiro plano tem Louise Lasser, Diane Keaton e Mia Farrow”, descreve Stephens, que prefere não entrar no mérito de julgamento sobre as acusações que recaem sobre o autobiografado.