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Por Redação O Sul | 28 de junho de 2017
Viagens suspensas, desespero e muita revolta. Esses foram os primeiros reflexos provocados na quarta-feira, um dia após a PF (Polícia Federal) anunciar a suspensão da emissão de novos passaportes no País. Na sede da PF na Lapa, na Zona Leste da capital paulista, a estudante Izabella Bonifácio, 12 anos, saiu aos prantos do atendimento após saber que sua viagem marcada para a Disney, nos Estados Unidos, está na berlinda. “Eu acho isso um abuso não só comigo, mas para com todas as crianças. Tudo estava pronto. Meus pais compraram as passagens, reservaram o hotel e o dólar”, disse, em lágrimas.
A criança foi amparada pelo pai, o representante comercial Manoel Bonifácio, 55 anos, que também ficou revoltado com o que ouviu no atendimento agendado na PF. “A viagem dela será em 20 de julho. Só que eles disseram que o documento não tem prazo para ser entregue. A gente gastou o que não tinha para realizar o sonho dela.” “O Brasil está de brincadeira, gente. Não dá mais”, afirmou o representante comercial.
O comerciante Nizar Derbas, 38 anos, a mulher dele, Suha Derbas, 25 anos, e o filho Abude, de um ano, também saíram do prédio da instituição sem resposta. Eles apresentaram até as passagens compradas para o Líbano, marcadas para o dia 11 de julho. Mas não teve jeito. “O que a gente vai fazer agora? A PF vai pagar a conta do cancelamento se a viagem não acontecer?”, questionou o comerciante.
Até o único serviço ainda disponível, a emissão do passaporte de emergência, também ficou comprometido nesta quarta, segundo os usuários. “Eles só estão emitindo para casos de saúde”, disse a psicóloga Divanize Salto, de 46. Ela tentou pegar um passaporte de emergência para, caso necessário, viajar até os Estados Unidos, onde o filho dela, de 16 anos, vai fazer um intercâmbio em julho. “Eles disseram que o meu pedido não se enquadrava.”
O passaporte de emergência vale por um ano e é entregue 24 horas depois de solicitado. Tem direito ao benefício quem tem demandas em cima da hora relacionadas ao trabalho e à saúde no exterior. Também serve para pessoas que atuam em causas humanitárias, conflitos naturais e na administração pública, entre outras condições.
A principal suspeita é de que a pouca quantidade de papel disponível tenha forçado a PF a só liberar a confecção de passaportes de emergência em situações de saúde.
A youtuber de drones, Helena Cauduro, 43 anos, cancelou a viagem que o filho dela, Miguel, 11 anos, faria com o pai para a Itália no final deste mês após sair do atendimento agendado nesta quarta. “Que presente a gente recebeu, né. Agora o jeito será usar o RG. Hasta Montevidéu”, disse.
Cadê meu dinheiro
A pergunta que mais foi ouvida entre os usuários que buscavam uma explicação para a suspensão do serviço de passaporte no país foi: cadê o meu dinheiro? “A gente paga uma fortuna. São quase R$ 260 e eles dizem que não tem dinheiro? Essa grana vai pra Lava-Jato?”, questionou a empresária Lenilda Moraes, 60 anos.
A taxa de emissão, de R$ 257, não abastece apenas os custos de confecção do documento de viagem. Segundo o sindicato dos policiais federais, o dinheiro cai numa conta única do governo federal cuja PF não pode gerir.
Suspensão
A medida da suspensão foi anunciada na noite de terça-feira, às vésperas das férias escolares, e em meio à relação tensa do governo Michel Temer com a instituição. Segundo a PF, usuários atendidos nos postos até esta terça-feira receberiam seus passaportes normalmente. O agendamento on-line do serviço e os atendimentos nos postos da PF continuariam funcionando nesta quarta-feira (28), segundo a instituição, mas não há prazo para emissão do documento.
O Ministério do Planejamento afirmou que vai encaminhar ao Congresso um projeto de lei requisitando crédito de R$ 102,3 milhões para que o fornecimento de passaportes possa ser regularizado.