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Mundo Separados por mais de mil quilômetros, brasileira e filho narram a sua rotina após entrarem nos Estados Unidos pela fronteira com o México

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Na fronteira dos EUA com o México, uma menina de apenas 2 anos chora enquanto a mãe é revistada. (Foto: Reprodução)

João Victor passou no sábado (30), o primeiro de seus 14 aniversários longe da mãe, dentro de um centro para 1,4 mil menores imigrantes no Texas, entre os quais é o único a falar português. Além da ansiedade para sair de lá, ele só se queixa do fato de que os novos colegas latinos nunca usam o seu nome.

Durante os dez primeiros dias, a mineira Wesliane não tinha ideia do paradeiro do filho. “A agonia de não saber onde ele estava foi pior do que a prisão. Meu cabelo caiu, eu não dormia e chorava”, disse na Casa Vides, uma ONG que acolhe imigrantes em El Paso, também no Texas. “Nós víamos na TV o noticiário sobre a separação das famílias e tínhamos medo de ser deportadas sem nossos filhos.”

João Victor está no outro extremo no Texas, em Brownsville, que fica a 1.330 quilômetros de El Paso. “Durante o dia eu faço um monte de coisas, mas na hora de dormir eu perco o sono e fico pensando em tudo.”

A noite também era o momento mais difícil de Wesliane na prisão. “Quando deitava, eu chorava e ouvia o choro das outras mães.” A maioria de suas companheiras vinha de Guatemala, Honduras e El Salvador, países da América Central mergulhados na violência e na pobreza. “Durante o dia nós conversávamos e víamos televisão, o que ajudava a passar o tempo. À noite, na cela, vinham todas as lembranças ruins.”

Na primeira das duas prisões pelas quais passou, a rotina era especialmente dura: café da manhã às 3 horas, almoço às 10 horas e jantar às 15 horas. “Não podíamos levar comida para as celas. Quem tinha dinheiro podia comprar comida, mas eu não tinha nada.”

Wesliane ainda não sabe quando o filho deixará o centro para menores, mas acredita que não será em menos de três semanas. Libertada com uma tornozeleira eletrônica, ela planeja viajar amanhã para uma cidade próxima de Boston onde estão dois primos e uma prima, com quem vai morar. Os parentes pagarão sua passagem e emprestarão dinheiro para ela bancar a passagem do filho e da assistente social que o acompanhará até seu novo endereço. Para que ele seja solto, os moradores da casa precisarão fornecer suas impressões digitais ao governo. “É uma questão de segurança, para saber se não há ninguém condenado por molestar crianças”, disse João Victor na conversa por telefone com a mãe.

Os dois saíram juntos de Belo Horizonte (MG) em 29 de maio, em direção à Cidade do México. De lá, viajaram 24 horas de ônibus até a fronteira. Wesliane pagou US$ 2.000 pela travessia a um mineiro que vive no México e fez um preço mais baixo porque a conhecia.

“Sabe quando você não vê futuro? Eu não tinha R$ 1 na minha conta no banco. Eu estava desesperada. Meu filho estudava em uma escola boa, mas em uma área muito perigosa. Eu só pensava no futuro que ele teria”, lembrou.

Wesliane disse que a gota d’água foi o reaparecimento de um namorado violento, com quem havia rompido três anos antes. “Em abril ele me disse que um dia pegaria o João Victor na escola e o levaria para sua casa, para ver se assim eu voltaria para ele. Eu entrei em pânico.”

O dinheiro para a aventura veio da mãe, de uma tia e do ex-marido, que migrou para os EUA quando João Victor tinha 6 meses. O casamento à distância acabou em 2012.

A brasileira havia tentado entrar nos EUA em 2006, sem o filho, mas foi deportada da fronteira. Desta vez, ela esperava ter a mesma experiência de milhares de outros imigrantes que cruzaram com menores nos últimos anos, usando uma tática conhecida como “cai cai”: entrar por uma área não autorizada e entregar-se às autoridades. Sua expectativa era ficar detida com o filho de dois a três dias e sair em liberdade condicional.

Mas o plano foi afetado pela política de “tolerância zero” de Trump, que decidiu processar criminalmente todos os que entram de maneira irregular nos EUA, mesmo que isso levasse à separação dos adultos de seus filhos menores.

Detidos no dia 2, Wesliane e João Victor foram para um centro da imigração, no qual ficaram em um quarto com outras 14 pessoas, entre crianças e suas mães. Nos interrogatórios, o filho fazia a tradução do inglês para a mãe. Quando não conseguia, o policial usava o Google Translate para se comunicar com Wesliane.

No dia seguinte, um policial disse que ela seria presa e o filho não iria junto. Quando perguntou qual seria o destino de João Victor, o oficial respondeu que não sabia. “Não sei nem descrever o que eu senti. Abracei meu filho e comecei a chorar.”

Uma hora mais tarde, outro policial anunciou que ela teria 15 minutos para se despedir de João Victor, antes de ser transferida. Wesliane usou o tempo para anotar os números de telefone da mãe, que ficou no Brasil, e de todos os parentes que vivem em Massachusetts. “Na primeira oportunidade, você liga para eles”, disse ao filho.

 

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