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Brasil “Será difícil repor 10 mil vagas de médicos”, disse o ex-chefe do programa Mais Médicos

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Apenas em novembro, Polícia Federal autorizou a permanência de 58 cidadãos de Cuba. (Foto: EBC)

Apesar do aumento na participação de brasileiros no Mais Médicos, o preenchimento de todas as vagas abertas com a saída de médicos cubanos por profissionais brasileiros é pouco viável e há grave risco de desassistência.

A avaliação é do professor de medicina da Universidade Federal da Paraíba Felipe Proenço de Oliveira, médico que ficou por mais tempo à frente da coordenação nacional do programa, de 2013 a 2016.

Ele estima que 367 cidades podem ficar sem nenhum médico na atenção básica. “Olhando todos os editais, não vejo como seja viável preencher 10 mil vagas com brasileiros [além dos 8.000 cubanos, há 2.000 vagas abertas]. O que pode acontecer é preencher com brasileiros formados no exterior”, afirma.
Para ele, as condições de Jair Bolsonaro (PSL) para manter o programa indicam desconhecimento do acordo com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e Cuba, modelo adotado em outros países. “São condicionalidades que não são exigidas em nenhum outro país”, diz.

1) Cuba anunciou que deve deixar o Mais Médicos, uma reação às declarações de Bolsonaro. Como viu essa decisão?

As regras estavam bem delimitadas desde o início. Só com a cooperação com a Opas e Cuba foi possível preencher as vagas que os brasileiros não quiseram. Há vários municípios para os quais foram só os cubanos que se disponibilizaram a ir. Além disso, a forma de contratação foi avaliada em vários órgãos e não houve nenhuma objeção. E o STF (Supremo Tribunal Federal) respaldou dizendo que era constitucional o ingresso de médicos estrangeiros sem Revalida [prova de revalidação do diploma para médicos] .

2) Quais devem ser os impactos da saída dos cubanos?

São cerca de 8.000 médicos que estão em equipes de saúde da família que cobrem 28 milhões de brasileiros. Sabemos que os brasileiros não vão a essas localidades. Olhando o comportamento de todos os editais, não vejo como seja viável preencher as 10 mil vagas que existem com brasileiros. O que pode acontecer é preencher com brasileiros formados no exterior. Mas aí, pelo que defende Bolsonaro, não tem que fazer Revalida? O tratamento tem que ser igual para todos os médicos formados no exterior. De todo modo, a substituição demora.

3) O ministério diz que tem aumentado o interesse dos brasileiros nas vagas do Mais Médicos. Isso não seria suficiente para ocupá-las?

Médicos brasileiros seguem procurando as vagas que são mais próximas [de onde estão]. Não vejo perspectiva que ocorra um preenchimento de todas as vagas com base nessa oferta do edital. Com isso, devem recorrer a brasileiros formados no exterior. Desde 2014 o edital não chega à etapa de estrangeiros [a regra do programa prevê prioridade para brasileiros, brasileiros formados no exterior, estrangeiros em geral e cubanos, nesta ordem]. Temos visto crescer muito o número de brasileiros formados na Bolívia e no Paraguai, países que não têm critérios muito rígidos de ingresso nas universidades.

4) A saída de cubanos pode representar o fim do Mais Médicos?

O programa tinha solução para não depender de estrangeiros, que era expandir as vagas de residência de medicina de família e comunidade. Pela lei, boa parte dos médicos que ingressassem na residência tinham que fazer ao menos um ano de medicina de família. O problema é que o MEC não abriu todas as vagas [questionada, a pasta nega e diz que foram abertas 13.627 vagas desde 2013]. Então não tem como agora, de uma hora para outra, arranjar essa quantidade de médicos. Se voltasse a implementar essa medida, seria interessante. Não sei se seria o fim, mas seria uma possibilidade.

5) Uma crítica frequente, sobretudo de entidades médicas, é que não haveria motivos para o provimento emergencial nos moldes que foi feito em 2013. O que justifica ter havido esse provimento?

As entidades médicas estão retrocedendo ao discurso de 2013 de que existe um número suficiente de médicos. Mas ficou bem comprovado naquele período que o número era insuficiente, pelo menos por três argumentos. Um deles é pela comparação internacional, em que o Brasil aparecia com 1,8 médicos por mil habitantes, sendo que temos países vizinhos com 3,9. A média da OCDE também é de 3. A segunda questão era o comportamento do mercado de trabalho no Brasil. Vimos por estudos ligados à Rais [relação anual de informações sociais, do Ministério do Trabalho] que diversos postos de emprego criados para médicos não eram ocupados. O terceiro era que observávamos que a categoria médica vinha há muito tempo com pleno emprego. Dá para afirmar por essas evidências que, assim como em 2013, ainda faltam médicos no país e ainda há demanda, tanto que municípios ainda buscam vagas.

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https://www.osul.com.br/sera-dificil-repor-10-mil-vagas-de-medicos-disse-o-ex-chefe-do-programa-mais-medicos/ “Será difícil repor 10 mil vagas de médicos”, disse o ex-chefe do programa Mais Médicos 2018-11-17
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