Sexta-feira, 04 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 16 de outubro de 2022
Após ganhar Valentina, em 2018, a médica Pâmella Morenghi Cury até pensava na possibilidade de tentar uma nova gravidez, mas não fazia planos concretos sobre quando teria o segundo filho. Em ascensão na carreira e fazendo especializações, ela adiou a decisão até que, no último mês de agosto, aos 38 anos, sem ainda ter uma definição, decidiu congelar seus óvulos. “Eu queria ter a opção (de engravidar novamente), mas, pelo meu momento de crescimento na carreira e de ter que equilibrar isso com os cuidados com minha filha, percebi que ter outro filho neste momento não seria ideal, até mesmo porque a minha dedicação à Valentina já é limitada pela questão do trabalho e gostaria de ter mais tempo com ela”, conta.
Ao mesmo tempo, Pâmella ponderou que, com a proximidade dos 40 anos, poderia não conseguir engravidar naturalmente quando decidisse tentar. “Fiquei me questionando se daria tempo, se eu teria óvulos em boa qualidade quando quisesse e por isso decidi congelar”, afirma ela.
Embora o congelamento de óvulos tenha melhores resultados se feito antes dos 35 anos, quando a mulher possui óvulos em maior quantidade e melhor qualidade, a grande maioria dos procedimentos feitos no País é realizada por mulheres que, assim como Pâmella, têm 35 anos ou mais, mostram dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entre 2020 e 2021, foram realizados 21.059 ciclos de estimulação dos ovários para congelamento de óvulos. Destes, 72,4% foram realizados por mulheres nessa faixa etária.
Não há limite de idade para a realização do procedimento de congelamento, mas a resposta da mulher piora com o passar dos anos, o que faz os médicos recomendarem que ela faça antes dos 35.
Para especialistas em reprodução assistida, a maior parte das mulheres acaba realizando o procedimento depois da idade considerada ideal por motivos profissionais, sociais e financeiros. Com a priorização da carreira e dos estudos, algumas mulheres adiam não só a gravidez, mas a decisão sobre se querem ou não ter filhos, o que impede que elas se planejem até mesmo sobre o congelamento de óvulos.
“Às vezes ela assume novas responsabilidades no trabalho, decide fazer um novo curso, uma pós-graduação e a vida vai seguindo. Se a pessoa não tem o desejo de gestar naquele momento, nem sempre isso surge como uma prioridade e aí o ‘clique’ sobre a gravidez vem mais tardiamente. Também há os casos de mulheres que tinham um relacionamento e se separam com 35, 36 anos e optam por congelar pela incerteza de quando encontrarão um novo parceiro”, diz o ginecologista e obstetra Alvaro Pigatto Ceschin, presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
A falta de um parceiro foi o que levou a gerente de compras Paula Chignall Schefer, de 44 anos, a congelar os óvulos com 35 anos. “Sempre tive vontade de ser mãe, mas não congelei antes porque, apesar de não ter um parceiro, sempre tinha aquela expectativa de que iria conhecer alguém logo ou que ia dar certo com aquele namorado que eu estava iniciando um relacionamento”, conta Paula.
Quando faltava um mês para completar os 35 anos e sem que ela tivesse encontrado esse parceiro, Paula decidiu congelar. “Ainda bem, porque conheci meu marido só com 41 anos e, se não tivesse congelado os óvulos, acredito que dificilmente teríamos conseguido naturalmente”, diz.
Hoje mãe de Maria Laura, de 1 ano, Paula chegou a engravidar naturalmente aos 42 anos, mas perdeu o bebê com 10 semanas de gestação e, alguns meses depois, decidiu fazer uma fertilização in vitro com os óvulos que havia congelado.