Segunda-feira, 16 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 10 de setembro de 2015
Homens que sofreram lesões na medula espinhal em plena juventude têm em comum a causa da tragédia – em geral, tiro ou acidente de trânsito – e o comprometimento da vida sexual. Um recurso eficiente na reabilitação desses pacientes é o uso do Viagra e de outras drogas que quebraram o tabu da impotência sexual na terceira idade. Ao contrário do que muitos imaginam, a maioria dos paraplégicos e tetraplégicos consegue ter ereções.
O problema é que elas são fugazes, duram poucos minutos, tempo insuficiente para uma relação sexual. Com a desmistificação do uso da pílula azul e de outros medicamentos que surgiram a reboque, pessoas com deficiência física redescobriram o sexo.
“Os atletas da seleção brasileira de basquete em cadeira de rodas e da esgrima são casados ou estão sempre namorando. Não têm dificuldade nesse sentido”, conta Hésogy Gley, integrante da equipe médica e coordenador do antidoping do CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro). “Dos Jogos de Pequim, em 2008, para os de Londres, em 2012, aumentou muito o número de atletas com lesão na medula e dos casos de quem toma remédio para o sexo. Mas poucos contam isso abertamente.”
Gley explica que, assim como no esporte olímpico, os atletas paralímpicos precisam informar os remédios que tomam. O objetivo é evitar confusão no exame antidoping. Mas, no caso dos atletas com deficiência, esses relatórios são frequentes. E entre os recordistas estão os remédios com efeito vasodilatador, indicado para impotência.
Como há variações de comprometimento das lesões medulares, a possibilidade de ter relações sexuais e de gerar filhos depende do nível e do tipo de ruptura sofrida. As lesões mais comuns causam a tetraplegia, quando há lesão cervical ou torácica de alta intensidade, o que compromete tronco, pernas e braços, ou a paraplegia, quando há perda dos movimentos da área da cintura para baixo.
“Conhecendo seu potencial e suas limitações, fica mais fácil ter uma vida sexual ativa. Principalmente para os homens. Apesar de a ereção ser basicamente resultado de manipulação, o prazer tem de ser desfocado da área genital. Há cadeirantes com alguma sensibilidade no pênis, mas a maioria ‘transfere’ o tesão para outros locais do corpo”, revela a fisiatra Izabel Maior.
Izabel, que sofreu lesão quando ainda era estudante, diz que nos paraplégicos a possibilidade de prazer é maior, pois há preservação de tronco, braços e abdome. Já entre os tetraplégicos, depende muito da sincronia do casal.
“Sexo? Não faço! Hoje faço amor”, afirma Marcelo Yuka, 49 anos, ex-baterista e um dos fundadores da banda “O Rappa”, que há 15 anos ficou paraplégico após tentar fugir de um assalto e ser atingido por nove tiros.
O músico conta que tem pouca sensibilidade, “algo como usar dez camisinhas ao mesmo tempo”, e que toma Viagra para ter confiança. “Ruim? É ótimo dentro do que posso. Tomo como qualquer pessoa. Muito menino faz o mesmo para encarar um mulherão ou uma festinha”, compara.
Fernando Amaro, 52, conta que o Viagra revolucionou o sexo para o homem em geral. E que o cadeirante se beneficia do remédio. “Se remédios como o Viagra podem nos ajudar, por que não usar? É para isso que servem! E por que não falar abertamente sobre isso? Não me importo com os olhares dos colegas por causa disso”, garante. Ele é casado com Adriana, 48.
Com 16 anos, Amaro foi atropelado quando andava de bicicleta. Conheceu sua esposa já na cadeira de rodas. O casal tem dois filhos: Raphael, 25, e Fernanda, 20. “Eu era jovem e era mais fácil. Agora, uso remédio para ajudar. Mas também não é toda hora. Como qualquer casal, não programo quando vou transar.” (AG)