Ícone do site Jornal O Sul

Só não vê quem não quer!

(Foto: Reprodução)

Compartilho com os leitores minha reflexão sobre dois temas que, atualmente, estão totalmente relacionados com o título acima. Ambos estão estampados nas radiografias de opinião pública muito recentes.

No campo político, a PEC da Blindagem foi um exemplo absurdo de uma proposta de emenda constitucional que gerou grande controvérsia no Brasil e tinha como intenção manter, aumentar a impunidade e conceder privilégios indevidos a parlamentares. Após ter sido aprovada na Câmara, a pressão da opinião pública fez o Senado não aprovar.

No entanto, assistimos hoje a muitas iniciativas do Congresso voltadas para projetos corporativos ou que defendem os setores mais privilegiados e desconectados das pautas dos menos favorecidos. A opinião pública vê e deixa isso muito claro.

A última pesquisa Datafolha traz uma fotografia precisa desse enxergar. A maioria da população, 51%, desaprova esse Congresso. Mais ainda. A pesquisa mostra que 78% dos brasileiros acham que ele age em interesse próprio.
Esses percentuais deixam claro que os entrevistados enxergam um Congresso capturado por lobbies.

Um lugar que, em tese, deveria cuidar das pautas sociais e públicas, cede lugar à pauta de interesses. Aliás, agora, muito mais claro no caso dos deputados Ramagem, Zambelli e Eduardo Bolsonaro.

Apesar dos bloqueios, os gabinetes dos três continuam funcionando. Em outubro de 2025, mês em que os três já estavam impedidos de exercer o cargo por decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF, a Casa gastou R$ 398,4 mil apenas com a manutenção dos gabinetes dos parlamentares.

O segundo tema também tem relação com uma pesquisa recentemente realizada pelo Vox Populi, que joga por terra o discurso conservador, reacionário e que, desde a Reforma Trabalhista de 2017, vem construindo uma narrativa buscando reduzir o papel sindical e a opinião dos trabalhadores.

Os resultados da mesma destacaram a importância do sindicato, os trabalhadores querem participar dos sindicatos e se associar. O grande problema para que isso ocorra é que o país ainda vive uma realidade de contratos precários, informalidade, terceirização, práticas antisindicais.

A pesquisa realizada trouxe vários dados relevantes, um deles derruba a narrativa contra o papel do sindicalismo. Do total dos entrevistados (3.500), 68% dos trabalhadores brasileiros consideram sindicatos importantes ou muito importantes para a defesa dos direitos e a melhoria das condições de trabalho.

Esse número demonstra uma constatação que nosso sindicato comprova há mais de 10 anos. Os estudos foram realizados por uma das mais respeitadas empresas de pesquisa brasileira e indicam, desde sempre, essa realidade junto aos trabalhadores da construção civil da região metropolitana de Porto Alegre.

O mais recente, de 2024, o nível de importância que os entrevistados atribuíram aos Sindicatos de Trabalhadores foi de 67%. Ou seja, o mesmo trazido pela pesquisa da Vox. Nessa mesma pesquisa do ano passado, o nível de aprovação do STICC é de 75%.

A conclusão é clara. A população vê a realidade da maioria dos integrantes do Congresso Nacional e expressa sua opinião quando é auscultada. No caso dos trabalhadores brasileiros acontece o mesmo sobre o papel dos sindicatos. Ano que vem teremos a oportunidade de lembrar que quem vai aos canteiros de obras fiscalizar, defender direitos, cuidar da segurança e proteger vida é o sindicato. Não vereadores, deputados ou senadores.

A verdade é que, para todos que encaram a realidade dos trabalhadores de frente, é inegável que a importância do movimento sindical salta aos olhos. Qualquer um com o mínimo de discernimento vê a necessidade vital dessas instituições para a manutenção da dignidade e dos direitos da classe trabalhadora.

Só uma maioria de deputados e senadores do atual mandato não veem. Aliás não querem ver. Na pratica só aparecem na frente de sindicatos para fazer discursos de oposição aos defensores dos fundamentos constitucionais. A maioria deles legisla em causa própria, de corporações ou “financiadores ” de sua campanha em detrimento do interesse público. Só não vê quem não quer!

* Gelson Santana é presidente do STICC e secretário nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil, Construção Pesada e em Montagem Industrial UGT.

Sair da versão mobile