Quarta-feira, 07 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 2 de dezembro de 2022
Daniela Mercury só conseguiu finalizar “Baiana”, disco lançado nessa sexta-feira (2) nas plataformas digitais, após o resultado das eleições. É que o veredicto das urnas impactaria diretamente na seleção que ela faria das canções entre as mais de 60 inéditas que compôs recentemente. As músicas, por sua vez, definiriam a mensagem que a artista transmitiria ao público.
Na entrevista a seguir, a cantora e compositora de 57 anos afirma que, apesar de seu engajamento político na campanha do presidente eleito, não postula o cargo de Ministra da Cultura, para o qual seu nome teria sido cotado.
Descreve o que sentiu ao ver Gilberto Gil ser atacado durante a Copa do Mundo do Catar (“é como machucar alguém da nossa família”), fato que a fez lançar campanha para descobrir a identidade do agressor.
Daniela fala ainda da felicidade sexual proporcionada pela relação com sua companheira, a jornalista Malu Verçosa.
1) Seu novo disco parece movido à indignação. Correto?
Sim. A pandemia me trouxe forte a coisa da memória, junto com a angústia de lutar pela cultura. Foi um processo criativo livre, relacionado à angustia à emoção. A indignação esteve presente e o desejo de trazer esperança e luz. Vejo essa necessidade de o artista apontar caminhos. Quando vemos Gal Costa, Moraes Moreira, Erasmo Carlos irem embora, percebemos o quanto somos ligados a eles. Essas pessoas me educaram. Me disseram como lidar com a ditadura, no que acreditar e como me comportar.
2) Você compôs a canção “Caetano filho do tempo” para o compositor. Já mostrou a ele? Deu frio na barriga?
Dá muito frio na barriga, sim (risos). Ele ainda não ouviu, estou louca para mostrar. Fiquei pensando em como falar de Caetano. Porque ele é de uma imensidão, de uma complexidade… Já fiz música para Gil também, “De Deus, de Alah, de Gilberto Gil”, e “Quando o carnaval chegar” acabou virando um frevo para Gal (que elas gravaram juntas).
3) Falando em Gilberto Gil… Você saiu em defesa dele depois que foi atacado no Catar. Lançou uma campanha nas redes sociais para descobrir a identidade do agressor. Por que é importante fazer esse movimento e o que você sentiu ao ver um patrimônio brasileiro como Gil ser agredido?
Senti a mesma indignação de quando falaram contra Fernanda Montenegro. A gente, realmente, se dividiu entre democratas e não democratas. Nem todo mundo percebeu isso. Todos os artistas, todas as pessoas, merecem respeito. Ninguém merece discurso de ódio, não podemos aceitar. Mas quando isso vem para pessoas por quem temos tanto respeito e afeto, que são fundamentais na cultura brasileira como Gil e Fernanda Montenegro, a indignação é maior. É como machucar uma pessoa da nossa família.
4) Em 2020, você me disse que continuava apaixonada pela Malu. E agora, após uma pandemia e 10 anos de relacionamento?
A gente saiu da pandemia mais apaixonada ainda. Acho que tem a ver com compromisso. A gente vai amando mais quem se compromete com a gente. Compartilhamos sonhos parecidos para o país. A luta pela democracia, pelas artes, contra a LGBTfobia nos aproximou. É muito bom ter uma mulher corajosa, parceira e cidadã ao meu lado. Temos uma trajetória e uma visão de mundo parecida, apesar de ela ser mais jovem do que eu.
5) Você sempre falou de sexualidade feminina de maneira tranquila. Acha que ainda é um tabu debater sobre o assunto?
Sexo é algo de que precisamos falar, faz parte da nossa saúde psicológica e emocional, da nossa alegria de viver. Não tem como pensar na vida sem sexo. É algo muito importante para mim, sempre foi. A energia sexual é a mesma que a criativa, não dá para dissociar.
Sou essa mulher animada no palco porque sou uma mulher sexualmente feliz. Tenho muito prazer. Acho que ainda é tabu falar sobre esse assunto, é algo impregnado na cabeça das mulheres. Se a gente fala de sexo, somos descomportadas. Então, sou a rainha má (risos).