Sábado, 27 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de setembro de 2025
A carreira de Richard Bachman durou pouco. Em apenas sete anos, publicou cinco livros: Fúria (1977), A Longa Marcha (1979), A Autoestrada (1981), O Concorrente (1982) e A Maldição (1984). A farsa chegou ao fim em 1985 quando Stephen King recebeu uma carta de Stephen Brown. Nela, o dono de uma livraria em Washington revelava o que muitos fãs já desconfiavam: King e Bachman eram a mesma pessoa. Diante disso, o escritor concedeu uma entrevista ao Bangor Daily News, decretando a morte de seu alter ego. “Câncer de pseudônimo”, justificou.
“A Longa Marcha foi o primeiro romance escrito por King, entre 1966 e 1967, antes mesmo da publicação de Carrie, em 1974”, explica Edilton Nunes, criador do portal Stephen King Brasil e administrador do perfil homônimo, com quase 60 mil membros, nas redes sociais. “Assim como os outros romances de Bachman, trata-se de um livro com uma concepção pessimista, uma crítica à sociedade do espetáculo, tema que, aliás, continua atual.”
Dois livros escritos por Bachman chegam aos cinemas este ano: A Longa Marcha – Caminhe ou Morra, de Francis Lawrence, estreia no dia 18 de setembro, e O Concorrente, de Edgar Wright, no dia 6 de novembro. Na última quinta, 4, entrou em cartaz A Vida de Chuck, de Mike Flanagan. “É bem diferente das histórias de King que estamos acostumados a ler”, prossegue Nunes. “É contada de trás para frente e explora, entre outros temas intimistas, a brevidade da vida, a importância da memória e o valor das pequenas coisas”.
Se A Longa Marcha e O Concorrente são baseados em livros de Bachman; A Vida de Chuck é inspirado em um conto de King, o segundo da antologia Com Sangue (2020). Pensa que acabou? Nada disso. No dia 26 de outubro, a HBO Max estreia It – Bem-Vindos a Derry, série que conta a origem do horripilante Pennywise. O livro It – A Coisa (1986) já deu origem a uma minissérie em 1990, de Tommy Lee Wallace, e a dois filmes de Andy Muschietti, em 2017 e 2019. Da primeira vez, o palhaço foi interpretado por Tim Curry e, da segunda, por Bill Skarsgard.
It – A Coisa foi o primeiro livro de King traduzido por Regiane Winarski. Foram nove meses para converter as 1.138 páginas do original para o português. De lá para cá, traduziu mais 31 obras do autor: 25 romances, três antologias e três contos. “O mais difícil? It – A Coisa!”, aponta. “É grande em número de páginas e denso em temas abordados”. Quanto aos fãs de King, carinhosamente chamados de “Leitor Fiel” pelo autor, Winarski garante que a relação não poderia ser melhor. “Até quando é para criticar, eles costumam ser educados e gentis”, elogia.
Foi o que aconteceu quando Winarski traduziu Trocas Macabras (2020) e resolveu trocar o nome da loja de Coisas Necessárias para Artigos Indispensáveis. “Os fãs já estavam acostumados ao nome antigo, e uma parte deles não gostou da mudança e reclamou em redes sociais. Não sou ingênua de achar que não tem reclamação pelas minhas costas, mas não costuma haver confronto agressivo diretamente comigo.”
Só de ficção, King já publicou 78 livros – 65 romances, como Carrie (1974), O Iluminado (1977) e A Dança da Morte (1978), e 13 antologias, como Sombras da Noite (1978), Quatro Estações (1982) e Tripulação de Esqueletos (1985). No Brasil, seus livros são publicados pela Suma de Letras, selo da Companhia das Letras. Mês que vem, em comemoração ao seu aniversário de 20 anos, a Suma lança o box A Torre Negra, com os oito títulos da série, escrita entre 1982 e 2012. “Não mudamos apenas a capa. Fazemos uma atenta revisão da tradução. Em alguns casos, encomendamos uma nova”, afirma o publisher Marcelo Ferroni.
Para 2026, estão previstos A Autoestrada e Blaze, ambos escritos sob o pseudônimo de Richard Bachman. Além dos cinco livros já citados, Bachman publicou mais dois “póstumos”: Os Justiceiros (1996) e Blaze (2007). “King ainda reina soberano, formando leitores e influenciando escritores”, afirma Ferroni. “Não dá para falar de ficção de terror sem falar dele. Sua influência transcende a escrita e avança pelo audiovisual.”
Dos escritores influenciados por King, dois dos mais bem-sucedidos são André Vianco, de 50 anos, e Cesar Bravo, de 48. O primeiro leu A Dança da Morte quando tinha 17 anos. “Temos essa pulsão pelo assombro dentro de nós”, afirma Vianco, autor das sagas Os Sete, O Vampiro-Rei e O Turno da Noite. “Mesmo sabendo que a história é fictícia, nos entregamos a ela. Gostamos de testar nossos limites.”
Já Bravo devorou Sombras da Noite por volta dos 13 anos. “Tenho o King como um amigo, quase um padrinho”, acrescenta Bravo, autor de VHS – Verdadeiras Histórias de Sangue (2019) e Três Rios (2024) e organizador da Antologia Dark – Stephen King (2020). “Ele precisou se desviar de muitas pedras para construir seu castelo. É uma referência de batalhas e conquistas.”
Na biografia Coração Assombrado (2008), Lisa Rogak conta que King escreveu seu primeiro romance, A Longa Marcha, ainda na universidade. Depois de lapidar o texto, resolveu inscrevê-lo em um concurso literário. Teve o manuscrito rejeitado sem qualquer explicação do editor. “Se sentiu desencorajado e escondeu os originais em uma gaveta”, relata a biógrafa no livro. Mal podia imaginar que, 58 anos depois, aquele romance estrearia nos cinemas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.