Quinta-feira, 15 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 14 de maio de 2025
Após um fim de semana de conversas em Genebra, na Suíça, EUA e China anunciaram a suspensão, por 90 dias, das tarifas comerciais proibitivas que esses países têm praticado um contra o outro desde que Donald Trump deu início à sua guerra tarifária contra o mundo.
De acordo com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, as duas partes concordaram em reduzir em 115 pontos de porcentagem, temporariamente, as tarifas que impuseram uma à outra.
De um modo geral, a partir de 14 de maio, produtos chineses pagarão tarifa de 30% (abaixo do atual pico de 145%) para entrar nos EUA, enquanto as exportações norte-americanas com destino à China serão taxadas em 10%, bem abaixo do patamar de 125% imposto pelos chineses em retaliação às medidas de Trump.
Há exceções, contudo. Trump afirmou que a suspensão das tarifas mais elevadas não se aplica a automóveis, aço e alumínio chineses. O republicano também declarou que pode conversar com o líder chinês Xi Jinping ainda nesta semana e entende que as negociações entabuladas em Genebra levaram a uma “redefinição” das relações entre os dois países.
De fato, o governo dos EUA está tentando vender a trégua acertada com a China como um grande feito da atual gestão. Em comunicado, a Casa Branca afirmou que “Trump garantiu uma grande vitória para os EUA”, o que é um evidente exagero.
É verdade que os ativos norte-americanos viveram um rali ontem, registrando ganhos expressivos. Mas também é preciso separar a reação positiva, por exemplo, das bolsas – que vinham amargando perdas históricas em consequência da insensatez posta em marcha por Trump – da realidade, que segue marcada pela incerteza.
Por isso mesmo, por mais que Trump tente dar às negociações de Genebra ares de vitória épica, uma palavra muito usada ontem em círculos políticos e em Wall Street foi “capitulação” – e não dos chineses.
Pressionados pela desvalorização de ativos e pela possibilidade crescente de recessão nos EUA no final do ano, os chamados adultos na sala entraram em ação para tentar minimizar os atritos entre as duas maiores economias do mundo.
Nesse sentido, a suspensão das tarifas draconianas é, sim, positiva e traz alívio. Tarifas menores são obviamente melhores que tarifas elevadas. E disso bem sabem os britânicos, que na semana passada fecharam um acordo comercial com Trump no qual concordaram com tarifas de 10% para boa parte dos produtos do Reino Unido, tarifas que nem sequer existiam há poucos meses.
De concreto, o que se sabe é que as tarifas vieram para ficar – o secretário Bessent sinalizou que menos de 10% é “implausível”, mesmo para nações que desfrutam de relações historicamente estáveis com os EUA –, que o acordo de Genebra é apenas uma trégua e que as incertezas permanecem.
As empresas, por exemplo, que precisam de um mínimo de previsibilidade para desenhar planos de negócio e de investimento vão ignorar as constantes idas e vindas da administração Trump e entender que a era de turbulência recente acabou?
Destaque-se, ainda, que tal pergunta se aplica às grandes corporações, pois as pequenas empresas dos EUA, que dependem de importações da China, já sofrem as consequências do tarifaço e têm bem menos condições para lidar com taxas que ora valem, ora não valem.
Ademais, a grande questão que se impõe é: como levar Trump a sério? Desde que assumiu seu segundo mandato como presidente, o republicano tem se mostrado muito eficiente em pisotear aliados e dar o dito pelo não dito com velocidade assustadora.
Por mais que na negociação com a China os adultos na mesa aparentemente estejam prevalecendo, Trump segue sendo o agente desestabilizador que é. Prova disso é que acaba de assinar um decreto que imporá às farmacêuticas, num prazo de 30 dias, metas para a redução dos preços dos medicamentos nos EUA – redução que deve variar de 59% a 80%. Como essa medida afeta a China, o Reino Unido e os acordos firmados até agora, é mais um fato gerador de incerteza, como basicamente quase tudo o que Trump faz. (Opinião/Jornal O Estado de S. Paulo)