Sábado, 06 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de dezembro de 2025
Para alguns deles, Tarcísio de Freitas (Republicanos) saiu melhor que a encomenda e se provou um nome mais apropriado do que o próprio Jair Bolsonaro (PL) para honrar o legado bolsonarista. Para outros, o ex-presidente não tem ninguém à altura como substituto, mas é preciso agir agora que ele, além de inelegível, está preso. O governador de São Paulo, então, seria a opção mais palatável entre os quadros de direita.
Seja como for, os principais líderes evangélicos vinham convergindo na simpatia por Tarcísio como opção do campo conservador para a Presidência em 2026, mais do que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, expoente desse segmento religioso, ou que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que anunciou nesta sexta (5) sua intenção de disputar a Presidência com aval do pai.
Não havia sinais de predileção nesse grupo por uma candidatura com o sobrenome Bolsonaro na cabeça de chapa, hipótese que empolga uma ala bolsonarista desconfiada dos governadores de direita cotados para a eleição do ano que vem —fora Tarcísio, há Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS). Falava-se na ex-primeira-dama Michelle no máximo como uma vice possível para Tarcísio.
A entrada de Flávio no jogo foi descrita por parte desse líderes evangélicos como “tiro no pé” e pegou de surpresa os pastores, que contudo preferem não se indispor publicamente com o clã Bolsonaro. A sensação, segundo o presidente de uma grande igreja, é de desconforto, sobretudo porque as lideranças nem sequer foram consultadas sobre o processo, após servirem de base para o bolsonarismo.
Flávio se declara evangélico, mas não é dado a grandes demonstrações de fé, ao menos não em público, e tem como passivo acusação de “rachadinha”. Para esses líderes, não é um mau sujeito, mas não seria o melhor nome.
Com o discurso oficial de que é candidato à reeleição em São Paulo, Tarcísio acumula acenos ao público religioso —que também era alvo de Bolsonaro na disputa contra Lula. O petista ainda patina no segmento, embora tenha reconquistado um ou outro apoio neste ano.
Líderes evangélicos ouvidos pela Folha citam o Evangelho de Mateus para pregar união em torno do candidato da direita, em meio à série de rachas: “Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá”. Agora, apostam que Tarcísio deve acabar de fato buscando a reeleição no pleito paulista.
Sem respaldo do ex-presidente, o governador não arriscaria uma vitória dada como certa em São Paulo para concorrer contra um Bolsonaro, afirmam. Mas dizem também que ainda há muita água para rolar.
Antes do anúncio de Flávio, entre aqueles publicamente simpáticos a uma chapa liderada por Tarcísio estava o apóstolo Estevam Hernandes, líder da Renascer em Cristo e idealizador da Marcha para Jesus, com quem o político tem uma relação de amizade. “Acho que ele seria o candidato ideal para este momento do Brasil.”
Outros com apreço pela ideia: Juanribe Pagliarin, fundador da Comunidade Cristã Paz e Vida e da rádio evangélica Feliz FM, e Edson Rebustini, presidente do Conselho de Pastores de São Paulo. O apóstolo César Augusto, da goiana Fonte da Vida, fala em “candidato que melhor representa pautas alinhadas ao cristianismo”.
O bispo Robson Rodovalho (Sara Nossa Terra) o chamava de “quase unanimidade”. Tarcísio, vale lembrar, é da costela partidária da Universal do Reino de Deus, o Republicanos. Assim como o governador acumula ambiguidades entre a moderação (como quando negociou com Lula) e o radicalismo bolsonarista (como quando atacou o Judiciário e chamou Alexandre de Moraes de tirano), a legenda também: tem o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, na gestão petista.
Entre os evangélicos, mais um que tem Tarcísio em alta conta é o apóstolo Valdemiro Santiago, que o recebeu em sua Mundial do Poder de Deus. O governador profetizou para os fiéis “promessas de cura, de prosperidade, de salvação”.
Tarcísio também é acolhido nas duas Assembleias de Deus de maior capital político, os ministérios Belém e Madureira. Em outubro, ele foi celebrar os 91 anos do pastor José Wellington Bezerra da Costa, do Belém, e ali questionou “quantas pessoas aqui foram batizadas nas águas” e “ganharam uma vida nova”.
Mesmo Silas Malafaia, que já o criticou pelo que vê como falta de pulso para defender Bolsonaro e atacar o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, era conciliador ao falar do governador. “Eu posso ter divergências com o Tarcísio, mas ele é o melhor nome. Depois de Bolsonaro, é ele.”
Para o pastor, Tarcísio “encarna a mesma proporção de Bolsonaro” na liderança evangélica. “Não tem ninguém que seja assim, ‘não, não gosto dele’.”
A opinião de Malafaia, no entanto, veio antes do anúncio do primogênito de Jair Bolsonaro. À noite, Malafaia divulgou no WhatsApp uma mensagem “a quem interessar possa”: “O amadorismo da direita faz a esquerda dar gargalhadas”. Disse depois que não estava falando “contra e nem a favor de ninguém”.
Líder do PL e ex-presidente da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante também era um dos entusiastas da composição Tarcísio-Michelle antes de Flávio se posicionar. Ainda mencionava outras combinações, como Tarcísio pareado com a senadora Tereza Cristina (PP-MS) ou Ciro Gomes (PSDB-CE).
Tarcísio é um católico fluente na oratória evangélica. Herdou-a da mãe. “Dona Maria Alice foi quem me ensinou a dobrar o joelho, a entender a palavra de Deus e o sentido da graça divina”, já disse sobre ela, uma evangélica que envia orações ao filho.
Seu conhecimento da Bíblia, segundo pastores, o diferencia de outros católicos próximos do segmento, mas que claramente não conhecem as Escrituras a fundo. Bolsonaro seria um exemplo.
Na campanha municipal de 2024, Pablo Marçal chegou a zombar de Ricardo Nunes (MDB) por uma suposta falta de lastro bíblico: disse que o prefeito paulistano só citava versículo decorado a mando do marqueteiro, ainda assim dando uma “embananadinha”, e o inquiriu a apontar “pelo menos dois filhos de José” para mostrar que “é assíduo na palavra, homem de oração”.
No caso de Tarcísio, a fala e a impostação de voz, quando em ambientes religiosos, são comparadas à pregação de um pastor.
Na quinta (4), um evento no Palácio dos Bandeirantes contou com fiéis cantando “1000 Graus”. Popular nas igrejas, o louvor que fala em “mil graus de unção” foi entoado por Tarcísio na Marcha para Jesus, ao lado de Estevam Hernandes e da bispa Sonia Hernandes. Na mesma tarde, o governador usou óculos escuros onde se lia numa lente “Jesus” e na outra “salva”. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.