Sábado, 14 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 20 de agosto de 2016
Era dezembro de 2013 quando Valdemir Pereira da Silva, 54 anos, convidou sete adolescentes de diferentes abrigos para passar as festas de fim de ano na sua casa. Já pai de quatro meninas, sendo duas adotadas, ele queria iniciar ali um trabalho com jovens carentes. Mas quando Marcelo Angélico Jesus dos Santos, de 16, lhe pediu para ser adotado junto com um amigo da mesma idade, o comerciante teve uma surpresa.
“O Marcelo pediu para eu adotar o amigo, e não o irmão dele. Eu fiquei surpreso, mas ele disse que, assim, os dois [adotados] poderiam depois ajudar a tirar seus irmãos do abrigo. Resultado: adotei os quatro”, conta Valdemir, que depois desse episódio ainda adotou mais uma criança.
A história da família reforça a tendência verificada junto às Varas de Infância, de que homens solteiros adotam crianças maiores – os filhos homens de Valdemir foram adotados com mais de 12 anos. Hoje, segundo o CNA (Cadastro Nacional de Adoção) são pelo menos cinco mil pessoas solteiras na fila de adoção, de um total de 37 mil pretendentes – e 6,9 mil crianças e adolescentes esperando por um lar.
Desde 2014, o cadastro não especifica o gênero dos pretendentes, mas, naquele ano, dos 31,6 mil inscritos, 202 eram homens solteiros, a maioria entre 31 e 50 anos de idade.
A primeira adoção feita por Valdemir veio quando ele ainda era casado, há 19 anos. Já pai da estudante de Psicologia Bruna Tamarys da Silva, de 25, ele soube que a mãe de Vanessa Karoline, hoje com 26 anos, não poderia mais cuidar da criança por problemas de saúde e recebeu autorização da família da menina para ficar com ela. Situação parecida viveu com Deborah Gabriely da Silva, 21, que chegou à casa de Valdemir ainda na barriga da mãe.
Depois do nascimento de sua segunda filha biológica, Bárbara Danielly da Silva, de 18 anos, o casamento de Valdemir acabou. A decisão de adotar mais cinco crianças veio há três anos, após Bruna ser atingida por uma bala perdida. Ela chegou a ser desenganada pelos médicos e, para ter a menina de volta, Valdemir diz que colocou na lista de promessas a dedicação a crianças carentes. Com a saúde da filha restabelecida, convidou os sete jovens para a tal festa de fim de ano.
Também solteiro, o professor de Artes Robson Moro, 30, figura nessa lista de pretendentes há 13 meses. Ele saiu da casa dos pais em 2014, com o intuito de se preparar para a paternidade. Fez cursos destinados a pais de primeira viagem e já preparou o quarto para um menino de até 5 anos, exigência que fez à Vara da Infância.
“Desde pequeno quis ser pai. Como sou homossexual, a ideia da família tradicional se foi. Até achei que isso seria um problema, mas nas entrevistas que fiz na Vara da Infância a juíza deixou claro que não nos avalia pela opção sexual, mas se estamos aptos para a paternidade”, emociona-se Moro.
“A adoção não é ato de caridade, mas de amor. Se você quer ser pai não deve escolher as características da criança. Você não está comprando um produto. Estou decidido a acolher quem tiver que ser”, diz ele.
Caçula de cinco irmãos até os 14 anos, o cabeleireiro Marcos Colli, 48, conta que cresceu com a ideia fixa de adotar ao menos uma criança para seguir o exemplo de seus pais, que no início de sua adolescência levaram para casa mais um herdeiro. Em 2004, recebeu Carlos, então com 2 anos. Camila, hoje com 11 anos, veio em 2006.
“Ela menstruou dia desses e quem ficou desesperado fui eu, mas minhas irmãs e mãe dão todo o suporte. Fiquei com dó quando levei ao médico, ele disse que ela não ia crescer muito. E a Camila só tem 1,48 metro, começou a chorar”, riu o cabeleireiro, ao lembrar das aventuras de um pai solteiro.