Quarta-feira, 15 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de março de 2018
Após a prisão de seus amigos pela PF (Polícia Federal), o presidente Michel Temer desistiu de passar a Páscoa em São Paulo e convocou o advogado Antonio Claudio Mariz nesta sexta-feira (30) para uma conversa em Brasília.
Mariz é o advogado do presidente no inquérito dos portos, que apura se o presidente recebeu propina em troca da edição de um decreto para supostamente favorecer empresas portuárias. Temer nega. Desde a quinta (29), o presidente e seus auxiliares discutem como reagir às investigações. A expectativa do Planalto é por uma nova denúncia contra Temer.
Conspiração
O ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) disse, na noite de quinta-feira (29), que o presidente se tornou alvo de “canhões da conspiração” e de um “complô” depois que se colocou como pré-candidato à reeleição. “Entendemos que a decisão do presidente de colocar a possibilidade de que venha disputar a reeleição, colocar como concreta essa possibilidade, faz com que, novamente, se dirijam contra nós os canhões da conspiração”, afirmou Marun após uma reunião com Temer e outros ministros.
Temer, que iria para São Paulo na quinta-feira para passar o feriado de Páscoa com a família, mudou de ideia e permanecerá em Brasília até segunda-feira (02). O presidente se reúne com aliados depois que uma operação da Polícia Federal prendeu alguns de seus amigos mais próximos, como o empresário e advogado José Yunes, o coronel João Baptista Lima Filho, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi (MDB) e o empresário Antônio Celso Grecco, dono da Rodrimar, empresa que atua no porto de Santos (SP).
As detenções foram autorizadas pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), relator do inquérito que investiga Temer por suposto recebimento de propina em troca de benefícios a empresas do setor portuário via decreto.
Sem citar o nome de Barroso, Marun insinuou que vem do ministro do STF a tal conspiração. “O Ministério Público tem um papel acusador, existe para isso. Na verdade, penso que caberia ao Judiciário uma atenção maior em relação ao que se coloca na nossa Constituição”, disse o ministro.
Ele evitou criticar a procuradora-geral, Raquel Dodge, embora tenha sido a PGR (Procuradoria-Geral da República) a solicitante das prisões desta quinta. Marun afirmou que ela tem “outro nível”, criticando o ex-procurador-geral Rodrigo Janot, que apresentou duas denúncias contra Temer no ano passado, e o ex-procurador Marcelo Miller, que recebeu do escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe Advogados, responsável pelo acordo de leniência da J&F-Friboi, apenas três meses depois de deixar cargo no Ministério Público Federal.
“Não vejo na procuradora Raquel aquele mesmo viés. Não vejo alguém de dentro do gabinete da procuradora Raquel recebendo dinheiro para orientar gravações ou qualquer coisa neste sentido”, afirmou Marun. O ministro disse desconfiar de prisões feitas em véspera de feriado e declarou ter havido autoritarismo nas detenções para ouvir sobre questões ocorridas antes do mandato.