Sábado, 02 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 28 de julho de 2025
Réu na ação penal relacionada à trama golpista, o tenente-coronel Márcio Nunes Resende Júnior declarou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o silêncio do Exército durante os acampamentos realizados em frente aos quartéis, após as eleições de 2022, gerou um “vácuo de poder” que contribuiu significativamente para a radicalização de manifestantes.
De acordo com o oficial, a omissão da Força naquele momento foi um equívoco que poderia ter gerado consequências graves. “Houve um erro grande. Houve um silêncio ensurdecedor por parte do Exército. Não gostaria de estar aqui criticando a instituição que servi por 33 anos, sem nenhuma mágoa. Mas, com aquele pessoal acampado ali na frente dos quartéis, achando que teria alguma coisa… esse vazio deixava os manifestantes cada vez mais…”, declarou durante o interrogatório conduzido nessa segunda-feira (28) pelo juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes.
Resende Júnior integra o grupo chamado de “kids pretos”, composto por militares da ativa que, segundo a investigação da Polícia Federal, participaram de articulações ligadas à tentativa de golpe de Estado. Em seu depoimento, afirmou que a ausência de um posicionamento claro da cúpula militar contribuiu para que os acampados interpretassem a situação como um possível sinal de apoio das Forças Armadas a uma ruptura institucional.
“Do jeito que estava ali, se Bolsonaro fosse à TV e dissesse que estava acionando o artigo 142 (da Constituição), aquilo virava um ‘barata voa’. Poderia perder o controle da situação. Um informativo do Exército ali seria importante”, completou o oficial, destacando o risco da ausência de um comunicado oficial que esclarecesse a posição da instituição.
Segundo ele, o ambiente no acampamento localizado no QG do Exército era permeado por discursos de parlamentares e apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro. Ainda de acordo com seu relato, a falta de uma resposta direta por parte do comando da Força deixava espaço para interpretações equivocadas por parte dos manifestantes.
“O Exército não estava apoiando. É claro que não. Mas esse silêncio poderia ter consequências ruins”, afirmou o tenente-coronel, ao mencionar que a ausência de uma manifestação pública reforçava expectativas infundadas entre os participantes do acampamento.
Resende Júnior é um dos alvos da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que aponta a existência de um núcleo militar que atuava de forma articulada com aliados do ex-presidente Bolsonaro, com o objetivo de impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). (Com informações do jornal O Globo)