Quinta-feira, 15 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 18 de janeiro de 2022
Dez anos depois de matar 77 pessoas na Noruega, o extremista de direita Anders Behring Breivik pediu sua liberdade condicional nesta terça-feira (18), em uma audiência que começou com ele fazendo a saudação nazista para os juízes.
Em um julgamento transferido, por razões de segurança, para o ginásio da prisão na cidade de Skien, no Sul da Noruega, onde Breivik está encarcerado, a Justiça norueguesa examinará o pedido de liberdade condicional apresentado pelo terrorista, condenado em 2012 a 21 anos de prisão com possibilidade de prorrogação.
Em 22 de julho de 2011, Breivik explodiu uma bomba perto da sede do governo em Oslo, matando oito pessoas, e, enquanto a polícia estava mobilizada pelo atentado, matou outras 69 pessoas, a maioria adolescentes, em um acampamento de verão da Juventude Trabalhista na ilha de Utøya.
O assassino, agora com 42 anos, dizia ser contrário a suas vítimas por defenderem o multiculturalismo.
Breivik, com a cabeça raspada e barba, entrou no tribunal com mensagens escritas em inglês e um terno escuro. Os textos diziam: “Parem seu genocídio contra nossas nações brancas!” e “Guerra civil nazista”. Ele olhou rapidamente para os jornalistas e fez a saudação nazista quando os três juízes chegaram.
“Como em qualquer Estado de direito, uma pessoa condenada tem o direito de pedir liberdade condicional, e Breivik decidiu usar esse direito”, disse seu advogado, Øystein Storrvik, à agência de notícias AFP.
O condenado recebeu a ordem de não mostrar os cartazes enquanto a Promotoria expunha seus argumentos contra a liberdade condicional. O extremista foi condenado a um formato de pena que pode ser prorrogado indefinidamente enquanto ele for considerado um risco para a sociedade, além de ter que cumprir um período mínimo de dez anos de prisão, o máximo previsto por lei na época.
Falando aos juízes, Breikvik culpou a radicalização on-line por seus crimes, dizendo que uma rede de extremistas sem líderes o motivou a cometer os atentados.
“Eu sofri lavagem cerebral. A ordem era restabelecer o Terceiro Reich, e como fazer isso fica a cargo de cada soldado”, disse, acrescentando que pretendia concorrer ao Parlamento e continuar sua luta pela supremacia branca por vias pacíficas.
Em um país que não havia vivido um crime tão violento desde a Segunda Guerra Mundial, o pedido de liberdade condicional não tem nenhuma chance de sucesso, dizem os especialistas. No entanto, a situação pode ser entendida como um teste pelo qual o Estado de direito tem que passar ao tratar um extremista como qualquer outro cidadão.
“É um teste para todos nós que uma pessoa que matou crianças, perseguiu pessoas que estavam fugindo para então matá-las e atirou em pessoas que o imploraram para salvar suas vidas se beneficie dos aspectos liberais da Justiça”, escreveu o popular diário Verdens Gang em seu editorial nesta terça-feira.
Em 2016, em um processo contra o Estado por ficar isolado na prisão, Breivik ousou se comparar a Nelson Mandela, que em sua campanha contra o regime do apartheid na África do Sul passou da luta armada para o combate político. Mas o extremista, que matou a maioria das vítimas com um tiro na cabeça, nunca expressou remorso.
“Ele não se tornou menos extremista do ponto de vista ideológico”. disse o diretor do Centro de Pesquisa em Extremismo de Direita (C-REX) da Universidade de Oslo, Tore Bjørgo. “Ele agora se apresenta como um nacional-socialista e, embora diga que, no que lhe diz respeito, a luta armada é uma fase que pertence ao passado, ele não se distanciou de forma alguma da matança que cometeu, que ele considera totalmente legítima”, afirmou.
Cada novo julgamento, marcado pelo comportamento cínico de Breivik, dilacera as famílias e parentes das vítimas. Antes do início da nova audiência, o grupo de apoio às famílias pediu que se dê “pouca atenção para o terrorista e sua mensagem”.
“Qualquer menção a este caso em geral e ao terrorista em particular é um grande fardo para os sobreviventes e os pais daqueles que foram vítimas dos ataques terroristas na Noruega”, enfatizou o grupo.
Os ataques de 2011 inspiraram outros atentados, incluindo o de Christchurch, na Nova Zelândia, em 2019, e tentativas de ataques em todo o mundo. Apesar da natureza excepcional de seus crimes, a Noruega se esforça para tratar Breivik como qualquer outro detento.
Em 2016, Breivik, que tem três celas na prisão, uma televisão com leitor de DVD, um videogame e uma máquina de escrever, conseguiu que o Estado fosse condenado por tratamento “desumano” e “degradante” porque foi mantido à parte dos outros presos. A condenação foi anulada em recurso. As informações são da agência de notícias AFP.