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Política “Tiveram que improvisar um banheiro feminino na lanchonete”, diz a primeira brasileira que se elegeu senadora

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Eunice Michiles (E) fala em comissão do Senado. (Foto: Arquivo do Senado)

Em 1979, Eunice Michiles era Secretária municipal de Trabalho e Serviços Sociais de Maués, no Amazonas. Ela estava satisfeita, trabalhava com o que gostava e achava importante. Mas o acidente cardiovascular (AVC) que matou o senador amazonense João Bosco de Lima mudou a vida da professora. Na época com 49 anos e filiada à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação da ditadura militar, Eunice era a suplente de Bosco. Assim, no dia 31 de maio de 1979, ela se tornou a primeira mulher a tomar posse no Senado Federal. Quarenta anos depois, em conversa com o Blog do Acervo, do jornal O Globo, Michiles relembrou sua atuação na Casa e disse que o país ainda tem “muito para caminhar” até chegar à igualdade de gênero na política.

Fui recebida de maneira muito gentil, com discursos bonitos, poesias e flores. Só que isso não deixava de ser uma discriminação porque não se recebe um senador com flores e poesias”, conta Eunice, hoje aos 89 anos, acrescentando que foi um “choque” trabalhar no Congresso. “Eu vinha de um Estado que, embora grande, era pobre. Do nada, passei a conviver com grandes nomes da política.”

Ela diz que, assim como não esperava ingressar naquele ambiente, o próprio Senado também parecia não cogitar esse acontecimento. “Não esperavam que uma mulher ‘invadisse’ aquele território masculino. Não tinha nem banheiro feminino, tiveram que improvisar um na lanchonete”, relembra Eunice, que também avalia o comportamento dos senadores no dia a dia. “Eu me sentia como uma dama penetrando naquele recinto, não me sentia recebida como uma colega. Não me sentia em parceria nos assuntos do Senado.”

Nascida em São Paulo, Eunice se mudou para o Amazonas quando casou com Darcy Michiles. Ela trabalhava como educadora, mas começou a se envolver com política muito por influência do marido. O sogro, que era prefeito de Maués, a empregou como secretária de Educação. Em 1964, foi eleita vereadora da cidade pelo PTB, mas teve seu mandato cassado pela ditadura. Dez anos depois, ironicamente, foi eleita deputada estadual pelo ARENA, o partido do regime militar. Em 1978, se candidatou ao Senado, mas não foi eleita. Ficou como primeira suplente de João Bosco de Lima. Mas, logo nos primeiros meses de 1979, Bosco de Lima faleceu, abrindo caminho para Eunice Michiles no Congresso.

Uma de suas propostas no Senado foi a eliminação de um artigo do Código Civil de 1916 que permitia ao homem anular o casamento e “devolver” a mulher aos pais caso descobrisse que ela não era virgem. Na justificativa do projeto de lei, a senadora escreveu que “Já é tempo de começarmos a encarar o sexo com naturalidade, na sua destinação mais pura, que nada tem de misterioso, de confessável ou de inconfessável” e que “Já não se admite seja o homem detentor da prerrogativa exclusiva de inquiridos dos atos praticados pela mulher antes do casamento, quando os seus próprios permanecem a salvo de qualquer averiguação”.

Eu achava que isso era injusto e apanhei de todos os lados, até das mulheres, achando que minha proposta era um escândalo”, conta Eunice.

Atualmente, 15% do Senado é composto por mulheres (12 de 81 senadores). Na Câmara dos Deputados, 77 mulheres foram eleitas para a atual legislatura, o que representa também 15% daquela Casa. Na opinião de Eunice, o número ainda é baixo, mas demonstra algum avanço:

Ainda tem muito para caminhar. Acho que, com a maioria do eleitorado sendo feminino, isso deveria acontecer proporcionalmente no Senado e na Câmara. Mas foram séculos em que a mulher foi criada discreta, comportada, sem poder falar alto. Isso tudo está sendo rompido. Agora que você vê mulheres em palanque, em igualdade aos homens”, analisa Michiles, que, no Parlamento, criou o Movimento da Mulher Democrática Social (MMDS).

A professora amazonense, mãe de quatro filhos, ficou no Senado até 1987, quando tomou posse como deputada federal, após ser eleita no ano anterior. Neste cargo, ela integrou a Assembleia Constituinte, que elaborou a Constituição Federal de 1988. Após terminar o mandato, a educadora foi escolhida como conselheira do Tribunal de Contas do Amazonas, posição que ocupou até se aposentar, em 1999.

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