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Ali Klemt Todos querem amor. Poucos estão dispostos a investir

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(Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Todo mundo sabe que ser casado não é fácil. O que poucos admitem é que, no fundo, é o que todos nós desejamos: amar e ser amado. Compartilhar os dias com alguém que ri junto, que entende as nossas manias, divide os perrengues, oferece carinho e, claro, desperta aquele desejo que mantém viva a chama do sexo. É como diz uma frase que vive circulando pela internet: “Casamento ideal é estar casado com o melhor amigo e, de vez em quando, fazer sexo.”

Seria a equação perfeita — não fossem as inúmeras variáveis que a vida insiste em incluir no meio do caminho: filhos, boletos, hormônios, pressões externas das mais variadas. Pressa. Rotina. Falta de tempo. Falta de dinheiro. Falta de libido. Crianças birrentas. Chefe estressante. Falta de sono. A lista não tem fim.

O ritmo do dia a dia valoriza as vitórias que alcançamos fora de casa, mas pouco incentiva que mantenhamos a grande conquista que é… ter uma família feliz. E é exatamente aí que falhamos.

Falhamos quando viramos gestores domésticos e esquecemos das características individuais que nos encantaram um ao outro. Falhamos quando apenas cobramos o cumprimento das tarefas, dos horários com as crianças, do êxito financeiro. Falhamos quando botamos uma lupa nos defeitos. Falhamos porque o olhar ficou embaçado.

E é aí que precisamos trocar as lentes — para enxergar melhor. Enxergar com clareza.

Quer ver uma experiência que exemplifica perfeitamente isso? Experimente encontrar seu cônjuge em um lugar na rua. Mas cheguem separados. Sente-se e o veja chegar, como se fosse um estranho. Observe como se movimenta, como fala com as pessoas. Algo no seu coração precisa bater. Algum “sininho” que o faça relembrar o início do relacionamento. Porque a paixão acaba, mas alguma coisa lá no fundo tem que continuar existindo — e, se existe, pode ser resgatada.

A ciência tem uma explicação para parte dessa trajetória emocional. Pesquisas da antropóloga Helen Fisher, da Universidade Rutgers, mostram que a fase da paixão intensa — aquela que faz o coração disparar, a mente perder o foco e o corpo viver em estado de euforia — dura, em média, de 12 a 24 meses, podendo chegar a 30. Nesse período, o cérebro é inundado por dopamina, norepinefrina e feniletilamina, substâncias associadas ao prazer e à excitação. Mas, como tudo que é intenso, essa química não é sustentável a longo prazo. Depois desse tempo, o corpo naturalmente busca equilíbrio — e o amor passa a ser sustentado por ocitocina e vasopressina, hormônios ligados à segurança, cumplicidade e apego.

Ou seja: a paixão é biologicamente programada para acabar.
Mas o amor, não. A paixão conecta — o amor sustenta. O amor é construção, é escolha.

Recentemente, conversava com um grupo de amigos. Todos homens. Todos sedentos por falar sobre… sentimentos.
Sim, sentimentos!
Acreditem, senhores: conversar com uma amiga, uma mulher de confiança, pode lhes fazer muito bem. Porque é impressionante como ainda há tantos homens que não aprenderam a abrir o coração entre si — e talvez por isso sofram tanto em silêncio.

Se houvesse mais rodas de conversa sinceras entre eles, talvez houvesse menos casamentos infelizes — e menos mulheres carregando sozinhas o peso emocional da relação. As mulheres falam sobre o casamento. E falam muito. O que é essencial, porque nos faz compreender que temos problemas em comum, e que, na verdade, todos passamos pelas mesmas circunstâncias. A diferença está na forma como cada um escolhe lidar com elas.

E é aí que o casamento morno, a relação opaca, a falta de desejo e o tédio a dois podem ser transformados.

Ouso dar um conselho genérico, caso você se identifique com esse contexto: se está infeliz, procure um médico. Pode haver questões físicas, psicológicas ou emocionais que precisam de ajuste — hormônios, ansiedade, déficit de sono, carência de vitaminas.

Às vezes, basta cuidar de si para reencontrar o outro. Porque é impossível amar plenamente alguém se não nos amamos inteiramente.

Muitas vezes, o problema da relação a dois é, na verdade, a autoestima abalada.
E aí tudo fica ruim — mas a culpa parece ser do parceiro.

Para as mulheres, a maturidade é ainda mais cruel. As mudanças físicas e metabólicas, a loucura dos hormônios, a menopausa, o fim da fertilidade, o medo da velhice em uma sociedade que não aceita cabelos longos, muito menos brancos, nas fêmeas maduras. É cruel — e solitário.

Mas voltemos ao casamento, essa instituição tão mal falada! Eu diria que ele é uma das mais injustiçadas tradições da humanidade. Não é por acaso: antes, o casamento era um acordo familiar estratégico. Depois, virou sinônimo de amor romântico. E, em algum ponto dessa transição, o amor — que deveria libertar — passou a ser confundido com prisão.

Bastou isso para nascer a era dos memes sobre maridos “dominados” e esposas “controladoras”. A caricatura venceu o companheirismo. Que pena.

Sob essa nova “ótica”, e em algum momento entre o ardor da paixão e a serenidade da maturidade, muitos casais se perdem. E o que se perde, antes de tudo, é o brilho no olhar. Triste. Quase uma morte em vida.

Mas a pergunta que fica é: onde foi parar o investimento no amor? Se ter alguém é o desejo mais íntimo de praticamente todos nós, por que paramos de investir nisso? Em que momento banalizamos algo que é, talvez, a coisa mais valiosa que temos?

E o que a ciência também mostra é que vale a pena tentar. O Harvard Study of Adult Development, pesquisa que acompanha pessoas há mais de 85 anos, concluiu que o maior preditor de felicidade e longevidade não é dinheiro, fama ou sucesso, mas ter relacionamentos saudáveis e estáveis. Quem vive vínculos de confiança e carinho tem menos risco de depressão, demência e doenças cardíacas. A Universidade de Michigan reforça: casais satisfeitos têm níveis mais altos de bem-estar psicológico e melhor qualidade de sono.

A Universidade de Stanford mostrou que o amor de longo prazo mantém as mesmas áreas cerebrais da paixão ativadas, só que com mais serenidade e menos estresse. E, segundo a Universidade de Toronto, quanto mais tempo juntos, mais o cérebro de um reage ao do outro — como se fossem parte de um mesmo sistema emocional.

Talvez o amor moderno tenha adoecido da mesma pressa que tomou o mundo. Vivemos na era do descarte, em que trocar é mais fácil do que consertar.

Mas o amor não é descartável — é artesanal. Exige tempo, presença, vulnerabilidade.
Exige paciência, escuta e o desejo sincero de continuar aprendendo o outro, mesmo quando já se acredita conhecê-lo por completo. Exige, sim, investimento de si mesmo…ao outro. A vantagem? O que se ganha de volta é para si mesmo.

O escritor Fabrício Carpinejar costuma dizer que o casamento é paz — não guerra. É uma união que traz crescimento e prosperidade por meio da confiança. Um time de dois, onde o cuidado e a atenção valem mais que grandes gestos. Quando há paz, há espaço para o outro crescer, e não para se encolher. E é nessa paz que mora a verdadeira paixão: a de ver o outro florescer ao nosso lado.

Casamento bom é aquele em que os dois continuam sendo — e se tornando — versões melhores de si mesmos. Onde a liberdade é compartilhada, não sufocada. Onde o amor não é rotina — é escolha. Escolha diária, madura, consciente.

Talvez, no fim das contas, o casamento ideal seja mesmo isso:  estar com o melhor amigo, rir das próprias falhas, enfrentar o caos da vida lado a lado — ser parceiro, ser cúmplice e, às vezes, ser até mesmo amante.

Porém, se ainda assim o amor morreu, que se tenha a coragem de seguir. Cada um, o seu caminho. Afinal, o que todos precisamos é de amor, sobretudo o amor próprio. Se não está bom, siga, e siga sozinho, com a paz de quem teve, sim, a coragem para amar. Porque mesmo que esse amor tenha chegado ao fim, valeu a pena. Sempre vale.

Ali Klemt

@ali.klemt

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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