Sábado, 03 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 6 de março de 2018
O MPF (Ministério Público Federal) calcula que quase 1.200 fuzis e pelo menos 300.000 munições tenham chegado às mãos de traficantes do Rio de Janeiro através do esquema montado por Frederik Barbieri, conhecido como o “Senhor das Armas”. Foram pelo menos 75 remessas entre 2014 e 2017. O bandido carioca virou o maior traficante de armas para o Brasil.
Preso no dia 23 de fevereiro, Frederik estava estabelecido nos Estados Unidos havia alguns anos, mas vivia em uma espécie de ponte-área Rio-Miami. No Estado americano da Flórida, embarcava computadores e videogames; no Edifício Central, no Rio de Janeiro, ajudava na distribuição do que acabara de chegar. “Oficialmente, ele fazia um adianto aqui, outro ali. Pagava um dinheirinho por fora para todo mundo sair ganhando, e tudo bem. Ninguém sabia que ele mexia com coisa errada”, disse um empresário do ramo de importação e exportação.
A expressão “adianto” que ele usa, em bom português, é contrabando. O que quase ninguém do ramo sabia é que, em 2011, Fred já estava apostando mais pesado e começando a se aproximar do mercado do tráfico de armas. “Até que um dia, estávamos na sala da casa dele conversando. Ele apareceu com um AK-47 nas mãos e me cantou, meio que brincando: “Vamos mandar isso pro Brasil?”, contou o homem.
Lá se vão quase sete anos. De fato, Fred mudou de vida completamente durante esse período. Dirigia um Ford Explorer preto com alguns bons anos de uso. De repente, deu início a uma pequena coleção de carrões, que incluía um Audi Q7 e uma Land Rover. “Lembro que ele disse ter vendido uma casa em Niterói para conseguir se levantar”, disse outro amigo.
Cria da Aníbal Porto, rua do subúrbio carioca de Irajá, Fred entrou no radar da polícia pela primeira vez no final dos anos 1990. Motivo: sua amizade com Marcelo da Silva Burck, o Marcelo da Gata de Irajá, preso em 2002 pela Polícia Federal. Naquele tempo, era o amigo e vizinho do bairro quem ostentava o título de traficante de armas número um. “Não tínhamos nada contra o Fred na época. Só sabíamos da existência dele. Mas depois ele sumiu do mapa”, disse um investigador da Polícia Civil.
E Fred realmente saiu da mira da polícia a partir de 20 de dezembro de 2000. Foi neste dia que ele registrou residência fixa nos Estados Unidos pela primeira vez. Uma parte de sua família, de Ramos, outro bairro do subúrbio, já havia se mudado para tentar a vida em Miami. Fred foi atrás. Não há, nesta época, qualquer indício de que ele tenha ido para lá enviar armas para o Brasil. Pelo contrário. Quem o conheceu conta que ele fez o caminho que todo imigrante faz quando chega na América: procura um emprego. “Ele começou aqui limpando piscinas”, revelou outro amigo.
Em 2005, Fred já tinha criado fortes laços de amizade na própria comunidade brasileira. Foi do Porto de Everglades que partiu o navio cargueiro que tiraria das sombras a verdadeira atividade-fim do empresário Frederik. Em 6 de março de 2010, a empresa Data Cargo embarcou o contêiner CHLU 830662-1, com destino a Salvador. Quando chegou à capital baiana, a mudança com 14 caixas somando 690 quilos trazia também 358 munições de fuzil AK-47, dez carregadores para a mesma arma e duas lunetas. O destino da mercadoria era um apartamento no quarto andar do edifício 1097 da Rua Visconde de Itaborahy, também registrado como um endereço de Frederik. A empresa que mandou o contêiner chegou a dizer que o material foi enviado no contêiner de Fred por engano.
Para a Promotoria dos Estados Unidos, o início das operações aéreas do criminoso foi em maio de 2013. As investigações da polícia brasileira e do MPF conseguem registrar pelo menos 75 remessas entre 2014 e 2017.