Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Dad Squarisi | 14 de fevereiro de 2021
Uma redação clara, enxutinha e prazerosa não nasce em árvore. É fruto de trabalho – 99% de transpiração e 1% de inspiração. O objetivo é um só: facilitar a vida do leitor. Como? Com frases curtas, ordem direta, palavras simples, economia de adjetivos e advérbios.
Lido, relido, reescrito muitas vezes, eliminam-se repetições, enxotam-se redundâncias, chega-se à clareza. Terá ficado bom? Colegas podem palpitar. Chefes também. E há um tira-teima pra lá de eficaz. Trata-se do teste de legibilidade, que significa fácil de ler. Aplicando-o, tem-se ideia do grau de dificuldade do recado que mandamos pro outro.
O teste
Em que consiste o termômetro? Pegue um escrito seu. Pode ser um e-mail, uma carta, um artigo, um relatório. Depois, siga o passo a passo apresentado a seguir. Com um cuidado: faça parágrafo por parágrafo.
Etapas
– 1. Conte as palavras do parágrafo – todas, sem exceção.
– 2. Conte as frases (cada frase termina por ponto).
– 3. Divida o número de palavras pelo número de frases.
– 4. Conte os polissílabos (palavras com mais de três sílabas).
– 5. Some o resultado da etapa 3 com o número de polissílabos.
– 6. Multiplique o resultado por 0,4 (média de letras da palavra na frase de língua portuguesa).
– 7. O produto da multiplicação é índice de legibilidade.
Resultados
– 1 a 7 = histórias em quadrinhos.
– 8 a 10 = excepcional.
– 11 a 15 = ótimo.
– 16 a 19 = pequena dificuldade.
– 20 a 30 = muito difícil.
– 31 a 40 = linguagem técnica.
– Acima de 41 = nebulosidade.
Aplicação
Vamos ao tira-teima? Avalie a legibilidade do texto. Siga as etapas apresentadas:
Textos gramaticalmente corretos impressionam o leitor, e o contrário também é verdadeiro: erros graves de concordância e regência nominal e verbal, de ortografia, de pontuação e acentuação comprometem a imagem de qualquer profissional, por isso é importante preocupar-se sempre em seguir as regras gramaticais da língua culta (aquela aprendida na escola) mesmo se estiver usando ferramentas informais de comunicação.
Eis o que deu:
– 1. Palavras do parágrafo: 60.
– 2. Número de frases: 1.
– 3. Divisão do número de palavras pelo número de frases: 60.
– 4. Número de polissílabos: 15.
– 5. Resultado da etapa 3 + polissílabos = 75.
– 6. 75 X 0,4 = 30.
– 7. Índice de legibilidade: muito difícil.
Reescrita
Que tal melhorar a legibilidade do parágrafo? É possível. Convoquemos pontos:
Textos gramaticalmente corretos impressionam o leitor. O contrário também é verdadeiro. Erros graves de concordância e regência nominal e verbal, de ortografia, de pontuação e acentuação comprometem a imagem de qualquer profissional. É importante preocupar-se sempre em seguir as regras gramaticais da língua culta (aquela aprendida na escola) mesmo se estiver usando ferramentas informais de comunicação.
– 1. Palavras do parágrafo: 57.
– 2. Número de frases: 4.
– 3. Divisão do número de palavras pelo número de frases: 14,25.
– 4. Número de polissílabos: 15.
– 5. Resultado da etapa 3 + polissílabos = 29,25.
– 6. 29,25 x 0,4 = 11,7.
– 7. Índice de legibilidade: ótimo.
Agora você
Pegue um texto escrito por você. Pode ser e-mail, carta, relatório, redação da escola. Se o resultado ficar acima de 15, abra os olhos. Facilite a vida do leitor. Você tem dois caminhos. Um: diminuir o tamanho das frases (use pontos). O outro: mandar algumas proparoxítonas dar uma voltinha (troque-as por palavras com menos sílabas). O melhor: abuse dos dois.
Lembrete
Lembre-se: o mundo da internet e do corre-corre impõe textos curtos, precisos e prazerosos. Rapidez de leitura fisga. Para chegar lá, opte por palavras simples e familiares. Vocábulos pomposos são pragas. Em épocas passadas, falar difícil dava mostras de erudição. Impressionava. Hoje a realidade mudou. A ordem é informar — rápido, bem e sedutoramente”.
Leitor pergunta
“Dia a dia tem crase?” (Marcos André, Goiânia)
– Não. Expressões escritas com palavras repetidas rejeitam a crase: dia a dia, face a face, cara a cara, semana a semana, gota a gota.