Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 1 de abril de 2016
Operador do mensalão afirmou em depoimento ao MPF (Ministério Público Federal) que o PT teria pedido a ele R$ 6 milhões para que Ronan Maria Pinto parasse de chantagear o ex-presidente, o então secretário da Presidência Gilberto Carvalho e o ex-ministro José Dirceu.
Ao menos três alvos da Operação Carbono 14, deflagrada nesta sexta-feira (1) pela PF (Polícia Federal), foram citados pelo operador do mensalão Marcos Valério em uma tentativa de acordo de delação premiada em 2012 em episódio que envolve a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.
Naquele ano, Valério afirmou em depoimento ao MPF que o PT teria pedido a ele para providenciar R$ 6 milhões para destinar ao empresário Ronan Maria Pinto, dono do Diário do Grande ABC, que estaria chantageando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o então secretário da Presidência Gilberto Carvalho e o ex-ministro José Dirceu. Ele teria informações comprometedoras a revelar sobre a morte de Celso Daniel. Ronan é um dos presos da 27a fase da Lava-Jato.
Este valor, segundo investigação da força-tarefa da Operação Lava-Jato, teria saído de um montante de R$ 12 milhões que o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, havia contraído em um empréstimo junto ao Banco Schahin em outubro de 2004. Segundo a Procuradoria da República, há evidências que apontam que o PT influiu diretamente junto ao Banco Schahin na liberação do empréstimo fraudulento. Para chegar ao destinatário final Ronan Maria Pinto, os investigados teriam se utilizado de diversos estratagemas para ocultar a proveniência ilícita dos valores e a identidade do destinatário final do dinheiro obtido na instituição financeira.
No depoimento ao Ministério Público, Valério citou que também participaram da suposta operação para calar Ronan o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, e o jornalista Breno Altman. Ambos também alvos da Operação Carbono 14. A tentativa de delação premiada de Valério não avançou. Ele cumpre pena acusado de operar a compra de votos no governo Lula.
Em seu depoimento, Marcos Valério contou que Silvio Pereira o procurou pedindo ajuda. O encontro foi marcado no Hotel Sofitel, em São Paulo, reduto de reuniões da cúpula do PT durante quase todo o governo Lula. Segundo o operador, os dois se sentaram em uma mesa do lado de fora e Silvinho disse que Ronan vinha chantageando Lula, Dirceu e Carvalho. E pediu a Valério o dinheiro para estancar a chantagem. Valério recusou-se a ajudar o PT neste caso. “Me inclua fora disso”, limitou-se a dizer.
Silvinho insistiu, pedindo apenas que aceitasse uma conversa com Ronan. O encontro foi marcado no “Hotel Puma”, na verdade Hotel Pullman, situado no Ibirapuera, em São Paulo. Teriam participado da conversa Valério, Ronan e o jornalista Breno Altman. Segundo Valério, Ronan disse que os R$ 6 milhões seriam usados para comprar 50% do jornal Diário do Grande ABC – conforme Valério disse ter ouvido de Silvinho.
O Diário do Grande ABC, disse o operador do mensalão, vinha publicando seguidas matérias sobre o assassinato de Celso Daniel. Apesar desses detalhes, Valério disse que Silvinho não lhe contou o motivo da chantagem.
Após a morte de Celso Daniel, a polícia concluiu que o petista foi vítima de “criminosos comuns”, mas o Ministério Público sustenta que ele foi eliminado a mando do empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, porque decidiu dar um basta em amplo esquema de corrupção em sua administração depois que constatou que o dinheiro desviado não abastecia exclusivamente o caixa 2 do PT, mas estava sendo usado para enriquecimento de algumas pessoas. Segundo procuradores da Lava-Jato, Ronan tinha conhecimento de como funcionava o esquema de corrupção.
Em 2012, Ronan Maria Pinto, Silvio Pereira e Breno Altman se manifestaram desta forma.
Em nota, o empresário Ronan Maria Pinto disse que “conforme já declarou em oportunidade anterior, jamais se encontrou em qualquer circunstância com o sr. Valério, a quem não conhece pessoalmente – só pelo noticiário”. Ele disse que “não conhece o sr. José Bumlai, de quem nunca sequer tinha ouvido falar”. “Tratam-se de novas partes da velha falácia com que buscam envolver seu nome em assuntos com os quais nada tem a ver.”
Silvio Pereira afirmou, por seu advogado, que considera “fantasiosa” a versão de Valério. O pecuarista José Carlos Bumlai recebeu com perplexidade a citação a seu nome. “Ele (Bumlai) ficou perplexo”, disse o advogado Mário Sérgio Duarte Garcia. “Absolutamente nada a ver com Banco Schain. Eu o consultei sobre isso, nega categoricamente que tenha participado de algo nessa linha.”
O jornalista Breno Altman disse que nunca se reuniu com Valério. “Nunca na minha vida estive com Marcos Valério. Nem nesse hotel e nem em canto nenhum. Se o Ronan é réu nos processos de Santo André junto com o PT, qual o sentido disso?”
Nota de esclarecimentos de Ronan Maria Pinto
“Sobre a Fase da Operação Lava-Jato
Nota Ronan Maria Pinto
Há meses reafirmamos que o empresário Ronan Maria Pinto sempre esteve à disposição das autoridades de forma a esclarecer com total tranquilidade e isenção as dúvidas e as investigações do âmbito da Operação Lava-Jato, assim como a citação indevida de seu nome. Inclusive ampla e abertamente oferecendo-se de forma espontânea para prestar as informações que necessitassem.
Mais uma vez o empresário reafirmará não ter relação com os fatos mencionados e estar sendo vítima de uma situação que com certeza agora poderá ser esclarecida de uma vez por todas.
Solicitamos à imprensa atenção a essa nota e mais seriedade e sobriedade na apresentação do empresário, assim como nas informações e afirmações que vêm sendo feitas e divulgadas. Todas as denúncias que o envolveram ao longo dos anos foram ou estão sendo investigadas e Ronan Maria Pinto vem sendo defendido e absolvido. A mais recente, uma sentença de primeira instância, onde houve condenação, encontra-se em grau de recurso.
Essas são as informações.
Aguardamos mais detalhes sobre a totalidade da Operação.
Cordialmente,
Assessoria de Imprensa
Atenciosamente”.
(Fausto Macedo – Andreza Matais, Julia Affonso e Ricardo Brandt/AE)