Sábado, 15 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de novembro de 2025
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma medida para reduzir tarifas sobre a importação de carne bovina, tomate, café e banana, em movimento voltado para controlar a inflação dos alimentos no país após o tarifaço. Centenas de alimentos foram listados em documento divulgado pela Casa Branca.
Entre outros países exportadores de commodities, as medidas devem beneficiar o Brasil, maior produtor global de café e segundo maior produtor de carne bovina, atrás apenas dos EUA, segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA).
O decreto publicado por Trump na sexta-feira (14), no entanto, se aplica apenas à alíquota de 10% das chamadas “tarifas recíprocas” impostas em abril a todos os países. A sobretaxa de 40% sobre o Brasil segue em vigor.
A medida modifica o escopo das tarifas com base em segurança nacional, pilar da estratégia de Trump para enfrentar o que ele classifica como “grandes e persistentes déficits comerciais” dos EUA.
A decisão vem após recomendações de autoridades encarregadas de monitorar o estado de emergência nacional declarado por Trump em abril. O governo citou negociações com parceiros comerciais, a demanda doméstica e a capacidade produtiva americana como fatores que motivaram a revisão.
“Determinei que é necessário e apropriado modificar ainda mais o escopo dos produtos sujeitos à tarifa recíproca imposta pela ordem executiva 14257 [medida que aplicou a tarifa global de 10%]”, afirma Trump no decreto.
Ainda na sexta, após a divulgação da medida, Trump disse a bordo do Air Force One que novos recuos nas tarifas não serão necessários. “Acabamos de fazer um pequeno recuo”, afirmou. “Os preços do café estavam um pouco altos; agora ficarão mais baixos em um período muito curto.”
Carne e café
Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,96 bilhão em café para os Estados Unidos, sendo o maior fornecedor no período, segundo dados da International Trade Administration, órgão vinculado ao Departamento de Comércio americano.
Desde que as tarifas de 50% entraram em vigor em agosto, no entanto, as vendas de café despencaram, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Em outubro, a retração foi de 54,4% em relação ao ano passado.
Nos EUA, o produto acumula alta de cerca de 20% em relação ao ano passado, segundo dados do CPI (índice oficial da inflação ao consumidor no país).
Para a carne bovina, os EUA enfrentam uma inflação de 12% a 18% em relação ao ano passado. Além das tarifas sobre o Brasil, o maior exportador global, uma redução do rebanho local também tem pressionado os preços. A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) afirmou em nota que considera positiva a decisão.
“A medida reforça a confiança no diálogo técnico entre os dois países e reconhece a importância da carne do Brasil, marcada pela qualidade, pela regularidade e pela contribuição para a segurança alimentar mundial”, disse a entidade.
As empresas exportadoras, no entanto, consideraram a redução das tarifas insuficiente. José Augusto de Castro, presidente-executivo da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), afirma que a redução foi tímida e que poucas tarifas foram reduzidas.
“Desde a reunião entre Lula e Trump se esperava alguma coisa [de significativo]. Nada aconteceu. Esperavam-se medidas melhores que essas. [Não se aplica a] Nenhum produto manufaturado. Só consumo e produtos ligados ao agro. Mudou pouco”, diz Castro.
Análise
Para a especialista em contabilidade internacional Fernanda Spanner afirma que a decisão faz parte de uma estratégia de longo prazo dos EUA para reduzir riscos e estabilizar a cadeira de suprimentos.
“O país já vem reduzindo a dependência de alguns mercados, como a China, e tentando abrir mais espaço em outras nações. Vejo como uma intenção de estreitar a relação com os países de América Latina”, diz.
Segundo o governo americano, os acordos na América Latina devem ser concluídos nas próximas duas semanas e abrem os mercados para a produção agrícola e industrial dos EUA.
A Casa Branca indicou que as tarifas gerais de 10% impostas a produtos da Argentina, El Salvador e Guatemala, e de 15% aos originários do Equador, permanecerão sem mudanças, mas que haverá uma redução em um certo número de mercadorias. Os quatro países se comprometeram a não impor impostos sobre serviços digitais de big techs. As informações são da Folha de S. Paulo.