Quinta-feira, 28 de março de 2024
Por Redação O Sul | 5 de novembro de 2017
Um navio de bandeira espanhola atracou neste domingo (5) em Salerno, no Sul da Itália, com cerca de 400 migrantes forçados e os corpos de 26 mulheres que morreram durante a travessia do mar Mediterrâneo. As informações são da agência de notícias Ansa.
Os cadáveres passarão por exames no necrotério da cidade, mas suspeita-se de homicídio ou afogamento. As primeiras investigações apontam que as mulheres eram da Nigéria e estavam em um bote inflável socorrido pelo navio espanhol Cantabria, que faz parte da operação marítima da União Europeia na região.
“A embarcação afundou, e as mulheres infelizmente levaram a pior, por serem mais frágeis”, afirmou o chefe da província de Salerno, Salvatore Malfi, que descarta a hipótese de tráfico para a prostituição.
“Carregar as mulheres em um bote seria um investimento arriscado que os senhores do tráfico não fariam, podendo perder a ‘mercadoria’, como eles dizem, de uma só vez”, acrescentou.
Entre as 400 pessoas resgatadas pelo Cantabria, também havia nove mulheres grávidas.
Crise migratória
Apesar desse último caso, a crise migratória que tornou o mar Mediterrâneo um cemitério para milhares de pessoas nos últimos anos começou a dar sinais de arrefecimento. Segundo dados divulgados na última terça-feira (31) pelo Ministério do Interior da Itália, o número de migrantes forçados e refugiados que desembarcam nos portos do país caiu 30,13% entre 1º de janeiro e 30 de outubro de 2017, totalizando 111.397 pessoas.
No mesmo período do ano passado, quando a emergência humanitária no Mediterrâneo atingiu seu ápice, a cifra foi de 159.417. Considerando apenas o mês de outubro, a queda foi ainda maior: 78%, passando de 27.384 para 5.984 indivíduos. Os números confirmam uma inversão de tendência na crise migratória na Itália, já que, até o fim de junho, o país caminhava para um ano recorde no desembarque de deslocados externos em seus portos.
Um dos motivos para a redução é o projeto patrocinado por Roma para treinar e equipar a Guarda Costeira da Líbia, principal ponto de partida para as “viagens da morte” no Mediterrâneo. Contestado por agências humanitárias, o acordo entre Roma e Trípoli prevê a capacitação das autoridades do país africano para a realização de operações de busca e resgate no mar, fazendo com que as pessoas socorridas retornem para o território líbio – quando o salvamento é feito pela Guarda Costeira da Itália, os migrantes forçados precisam necessariamente ser levados para a nação europeia.
O pacto foi alvo de duras críticas de entidades humanitárias, que desconfiam da capacidade da Líbia, um país em constante agitação desde a queda de Muammar Kadafi, de acolher corretamente indivíduos resgatados no Mediterrâneo. Além disso, o governo da Itália impôs um código de conduta para disciplinar a atividade de ONGs no mar, o que fez com que algumas delas, incluindo Médicos Sem Fronteiras, desistissem de realizar operações de busca e salvamento. Entre outras coisas, o código impede navios humanitários de entrarem nas águas territoriais líbias e autoriza ações policiais em embarcações de entidades humanitárias.